O Museu de Arte do Rio Grande do Sul e sua história

Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) é uma instituição museológica pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS (SEDAC), voltada à história da arte e à memória artística, assim como à produção contemporânea em artes visuais.

Criado em 1954, o MARGS é o principal museu de arte do Estado do Rio Grande do Sul e um dos mais importantes do país. Seu acervo reúne mais de 5.700 obras de arte, desde a primeira metade do século XIX até os dias atuais, abrangendo diferentes linguagens das artes visuais, como pintura, escultura, desenho, gravura, cerâmica, arte têxtil, objeto, fotografia, instalação, performance, arte digital, vídeo, filme e design, entre outras.

Esse acervo de arte do Museu é composto por arte brasileira, com ênfase na produção de artistas gaúchos, e também por obras de artistas estrangeiros, das quais conta com nomes significativos da arte mundial. Além disso, o MARGS possuiu um Acervo Documental com mais de 8 mil publicações bibliográficas e 5 mil pastas contendo documentos sobre a história institucional e a trajetória de artistas, agentes e instituições do campo artístico sul-rio-grandense.

Missão, objetivos e funções, valores, visão

Missão

O MARGS tem como missão preservar, pesquisar e difundir a história da arte e a memória visual artística, assim como as linguagens, investigações e produções contemporâneas em artes visuais, visando contribuir para o desenvolvimento sociocultural a partir da experiência e da produção de conhecimento com a arte.

Objetivos e funções

I — Desenvolver exposições, projetos, ações, programas, publicações e atividades que proporcionem aos públicos experiências aprofundadas, transformadoras e acolhedoras, além de gerar produção de conhecimento e difusão de conteúdos enriquecedores e inclusivos;

II – Conhecer e tornar conhecida a produção de artes visuais brasileira e estrangeira em seus aspectos técnicos, estéticos, críticos e históricos;

III – Conhecer e tornar conhecida a contribuição da produção de artes visuais ao desenvolvimento cultural do Estado do RS e da sociedade;

IV – Adquirir, pelos meios possíveis, obras visuais de arte brasileira e estrangeira;

V – Adquirir, pelos meios possíveis, obras bibliográficas sobre arte e documentos, de ou sobre artistas e a instituição, que possuam valor estético, histórico ou informativo;

VI – Incorporar, por tombamento, ao acervo do MARGS as obras de arte, bibliográficas e documentos adquiridos;

VII – Colecionar, documentar, conservar, restaurar e exibir os seus Acervo Artístico e Documental;

VIII – Dispor a pesquisadores e público em geral o seu o Acervo Artístico, em condições de integridade para exibição, e o Acervo Documental (bibliográfico e documental), quando organizado e tombado, desde que assegurada sua integridade e segurança em acordo e atendimento aos procedimentos e regras do Museu;

IX – Promover através de exposições, eventos, convênios e demais projetos o intercâmbio artístico e a colaboração com outros centros culturais congêneres do país e do exterior;

Valores

Prezar pela defesa do pensamento reflexivo e crítico, da liberdade de expressão e criação, da multiplicidade de saberes, de premissas éticas, democráticas, sustentáveis, social e ambientalmente responsáveis e de valores como diversidade, pluralidade, equidade, representatividade, acessibilidade e inclusão; em todas as ações, atividades e iniciativas realizadas e trazidas a público, bem como no ambiente profissional interno e externo.

Ser um espaço de educação, construção de conhecimentos e promoção da cidadania a partir da experiência com a arte; e que reconhece e lida com os conflitos, desafios e mudanças do tempo presente em permanente diálogo com a sociedade.

Visão 

Ser uma referência no Estado do Rio Grande do Sul e no Sul do Brasil para o estudo, a reflexão e o conhecimento sobre a produção artística, a história da arte e a memória visual artística, notadamente sul-rio-grandense, por meio da educação e da experiência com a arte junto aos públicos como processo crítico social e emancipador.

 

A criação do Museu

Nos anos 1950, Porto Alegre era uma cidade de porte médio cujas atividades se adensavam. No centro, localizavam-se as melhores salas de cinema, cafés e confeitarias, além de espaços culturais, como a Biblioteca Pública, o Museu Júlio de Castilhos, o Auditório Araújo Vianna e o Theatro São Pedro.

Nessa época, a cidade já dispunha de uma vida cultural movimentada. Data de 1908 a fundação do Instituto Livre de Belas Artes e, de 1938, a criação da Associação Francisco Lisboa, corporação de artistas que direcionava suas atividades para a atualização de idéias e realização de salões de arte. Exposições eram promovidas pelo Correio do Povo, Casa das Molduras, Cultural Americano,  Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e, a partir da década de 50, no Clube de Gravura. 

O MARGS foi criado em decorrência da instituição da Divisão de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, em 29 de janeiro de 1954 (Lei 2.345), tendo sido fundado em 27 de julho de 1954, por meio do Decreto nº 5065 do governo Ildo Meneghetti. Depois, o Museu seria regulamentado pelo Decreto n° 73.789, de 11 de março de 1974, e pelas Portarias nº 03/84 – D.O. 16/08/84 e nº 01/85 – D. O. 5/8/85.

A Divisão de Cultura do Estado, cuja direção coube ao Prof. Ênio de Freitas e Castro, comportava a Diretoria de Artes, da qual foi incumbido o Prof. Ado Malagoli.

Ao contrário de outros museus, que são criados quando já existe uma coleção reunida à espera de organização e institucionalização, o MARGS foi criado sem acervo inicial ou sede própria. Era preciso um nome para administrar o projeto, e a escolha recaiu sobre Ado Malagoli, um pintor e professor laureado que possuía também os talentos indispensáveis de organizador e gestor cultural, além de uma sólida formação intelectual e acadêmica.

Este paulista de Araraquara tinha chegado a Porto Alegre em 1952, a convite de Ângelo Guido, para lecionar Pintura no Instituto de Belas Artes (IBA). Trazia como bagagem o currículo de artista plástico, o curso de restauração de obras de arte realizado com Edson Motta, o maior restaurador brasileiro da época, e o diploma de museólogo, obtido nos Estados Unidos. 

No Instituto de Belas Artes, Malagoli junta-se a Benito Castañeda, João Fahrion, Maristany de Trias e Fernando Corona, seleto grupo que se tornou responsável pela formação da nova geração de artistas gaúchos. 

Malagoli traz renovação ao IBA num momento em que  a arte local está em transição para a modernidade. Com experiência nas práticas do ensino americano, nas quais alunos e professores convivem mais informalmente, incentiva a livre expressão e abre as portas para um modo mais descontraído do ensino de arte. 

Assim, diante das suas credenciais e da sua atuação no IBA, Malagoli viria a ser, dois anos depois de sua chegada, nomeado diretor deste museu no período 1954 a 59. 

Com a valiosa colaboração de Alice Soares e Christina Balbão, o diretor organiza a instituição. Recebendo carta branca do Governo do Estado, entrega-se à tarefa com entusiasmo. Para isso, reúne obras que se encontravam em instituições governamentais, faz aquisições em São Paulo e Rio e institui salões com Prêmio Aquisição.

O MARGS surgiu como um dos primeiros projetos museológicos de importância e abrangência no Rio Grande do Sul. A orientação imprimida por Malagoli tinha um claro propósito de atualizar o circuito artístico local por meio da constituição de um acervo composto por prioridades regionais e nacionais, incluindo artistas contemporâneos.

Este papel atualizador acompanhou já as primeiras exposições temporárias apresentadas — que discutiam a modernidade no Brasil, as novas possibilidades de expressão, resgatavam áreas negligenciadas como os primitivos e a arte sacra —; bem como pelos seus ciclos de palestras, abordando temas como o colecionismo, a legitimação das vanguardas e o sistema institucional da arte. A primeira exposição realizada pela instituição, intitulada “Arte Brasileira Contemporânea”, ocorreu em 1955, na Casa das Molduras.

As primeiras sedes

A sede do museu, ao longo da sua existência, ocupou diferentes espaços em Porto Alegre. Primeiramente, em 1957, foi instalado no foyer do Theatro São Pedro, sendo sua inauguração marcada por uma retrospectiva de Pedro Weingärtner. Em 1958, foi aberta uma exposição de Candido Portinari que atraiu grande público e serviu para consolidar a presença do MARGS no circuito de arte local.

No início da década de 1970, com o fechamento do Theatro São Pedro para reforma, o museu foi transferido para a sobreloja do Edifício Paraguay, na Avenida Salgado Filho. A partir desta época, a instituição passou a documentar sistematicamente as suas atividades, iniciando a publicação de um “Boletim Informativo”. Também organizou os primeiros núcleos, assim profissionalizando a estrutura e a rotina administrativa da operação conforme parâmetros museológicos.

O prédio histórico 

Através do Decreto 73.789, de 11 março de 1974, o MARGS recebeu autorização para instalar-se no prédio da Delegacia Estadual do Ministério da Fazenda, na Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre. A transferência para esta sede definitiva, no entanto, só se deu em 1978, no governo de Synval Guazzelli. Dirigia o Museu, desde 1975, Luiz Inácio Medeiros, que acompanhou a mudança. 

A 27 de setembro de 1978, houve um leilão de obras com o objetivo de angariar fundos para a melhoria da nova sede. Constituiu-se a Comissão de Amigos, que contava com nomes como Guilhermino César, Alice Brueggemann, Rose Lutzemberger e Vagner Dotto, entre outros. Entre 26 e 27 de setembro, a Comissão recebeu 180 peças, leiloadas com sucesso.

A inauguração da nova sede aconteceu em 26 de outubro de 1978, com a Exposição do Acervo, a Mostra do Desenho Gaúcho e o III Salão de Cerâmica. Parte do acervo sobre papel foi apresentada em salas com revestimento preto que, a partir daí, ficaram conhecidas como Salas Negras. O governador presidiu a instalação da fotografia de Ado Malagoli na sala da direção. Poucos dias depois, foi lançado o IIº Catálogo Geral de Obras, que relacionava mais de 600 peças.

O prédio do MARGS foi construído entre 1913 e 1916, originalmente para abrigar a Delegacia Fiscal, idealizado para compor um conjunto arquitetônico com o dos Correios e Telégrafos, hoje sede do Memorial do Rio Grande do Sul, ladeando a Avenida Sepúlveda.

O início da construção data de 1913, quando o então Ministro da Fazenda da União, Rivadávia da Cunha Corrêa, determinou a instalação da Delegacia da Receita Federal. 

O imponente edifício de tipologia neoclássica, com uma área construída de 4.855 m2 em um terreno de 1.750 m2, foi encomendado à firma do engenheiro Rudolph Arhons, profissional responsável por inúmeras mudanças urbanas ocorridas em Porto Alegre no início do século XX.  O arquiteto principal foi Theo Wiederspahn, tendo como assistente Alexandre Gundlach, sendo os ornamentos realizados pela oficina de escultura de João Vicente Friederichs, destacando-se como ornamentistas Victorio Livi e Franz Radermacker. As esculturas ficaram a cargo do escultor Alfred Adloff, que igualmente esculpiu, em baixo relevo, o medalhão em bronze do ministro Rivadávia Corrêa, localizado no vestíbulo.

Em 1° de novembro de 1916, ocorreu a instalação da Delegacia Fiscal, apesar de o prédio não estar concluído devido à falta de materiais que não haviam chegado da Europa em conseqüência da I Guerra Mundial. No ano de 1922, foram finalizadas as coberturas dos torreões, com revestimento em cobre, e efetuado o calçamento do passeio em torno do prédio. 

Segundo o artista e professor Fernando Corona, “As quatro fachadas são harmoniosas em seu estilo neoclássico que precedeu o barroco. Poder-se-ia denominá-lo neorrenascentista alemão”. Já o professor e pesquisador Günter Weimer considera que, no prédio do MARGS, “embora  a linguagem exterior acompanhe a tendência cada vez mais dinâmica da composição arquitetônica de um ecletismo à procura de sua independência das formas históricas, o espaço interno demonstra a profunda influência do proto-modernismo europeu”.

Em 1933, porém, o estado precário de conservação exigiu a execução de várias obras, entre elas a impermeabilização do terraço e novas instalações hidráulicas. Neste ano, foi instalado o elevador do prédio. Em 1941, ocorreu nova  impermeabilização do terraço e a recuperação das coberturas de cobre. 

Com a transferência em 1978 para o prédio da então Delegacia Fiscal, o MARGS ganhou maior visibilidade, promoveu melhorias na sua estrutura e instalações, e realizou exposições importantes, além de editar livros sobre artistas locais de reconhecimento. Também nesta década foi fundada a Associação dos Amigos do MARGS (1982).

Para adaptar-se às necessidades do museu, o edifício sofreu reformas. Foram restaurados os vitrais, instalados aparelhos para medir a umidade ambiental, colocados filtros de luz nas janelas e instaladas lâmpadas especiais. Várias empresas foram parceiras nessas melhorias. 

Entre o final de 1996 e início de 1998, o prédio passou por um profundo trabalho de reforma, motivado pelo seu estado de deterioração. Com o restauro completo por que passou o prédio, recuperando toda sua infraestrutura e recebendo climatização e equipamentos expositivos atualizados, o MARGS pôde enfim amparar-se em parâmetros de maior exigência quanto à operação museológica, alavancando expansão de suas atividades no cenário nacional e mesmo internacional.

A partir de 1997, com a 1ª Bienal do Mercosul, passa a abrigar seções especiais da Bienal do Mercosul em todas as suas edições até aqui.

É também no final dos anos 1990 que o Núcleo de Restauro foi completamente aparelhado, tornando-o caso exemplar de museu no Estado do RS a contar com equipe responsável pelas boas práticas de conservação e restauração voltadas ao acervo.

Entre 2006 e 2007, a estrutura externa do prédio e terraço foram novamente restaurados, recebendo pintura e demais reparos de manutenção.

Ao final de 2020, foi iniciada uma nova reforma, envolvendo três melhorias de preservação e segurança: adequação ao Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI), substituição total do sistema de climatização e restauração arquitetônica da parte superior do histórico prédio (terraço, claraboia e os quatro torrões).

Reconhecido como de interesse público por seu valor histórico-arquitetônico, o prédio foi tombado em nível estadual em 1983, pela então Divisão do Patrimônio Histórico e Cultural do Estado (Dphic). A portaria de tombamento foi a de n. 04/83, de 20/06/1983, retificada através da portaria 03/84, de 1/08/1984 e ratificada pela portaria 01/85, de 11/07/1985. O tombamento foi inscrito em 30/06/1983, sob o número 22, no Livro do Tombo Histórico, e publicado no Diário Oficial do Estado em 16/08/1984. Em nível federal, foi tombado em 2002 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como integrante do sítio histórico das praças da Matriz e da Alfândega.

A instituição hoje

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul — MARGS exerce uma função cultural preponderante no Estado do Rio Grande do Sul. Articulado a museus e instituições do Brasil e outros países, proporciona sustentação a projetos nacionais e internacionais. Sendo já desde sua fundação em 1954 um agente decisivo na dinamização do circuito cultural gaúcho, em décadas recentes o Museu tem trazido a Porto Alegre exposições de grande importância e desenvolvido projetos educativos e curatoriais de relevância e importante contribuição para os públicos e o campo artístico e intelectual. Também tem abrigado seções especiais da Bienal do Mercosul em todas as suas edições, desde 1997.

O MARGS tem como principal finalidade colecionar, catalogar, documentar, guardar, conservar, restaurar, pesquisar e exibir os seus Acervos Artístico e Documental, além de gerar produção de conhecimento e difusão de conteúdos.

Ao procurar promover saber e experiências avançadas sobre a história da arte e a produção em artes visuais, tem como compromisso democratizar o acesso a este conhecimento por meio do desenvolvimento de programas, ações e estratégias voltadas para os diversos públicos aos quais a instituição se volta, com especial atenção à constituição e formação desses públicos.

Além de integrar a estrutura da Secretaria da Cultura, o MARGS se mantém graças aos esforços da sua associação. A Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul – AAMARGS – instituição sem fins lucrativos que tem como objetivo dar sustentabilidade aos trabalhos do museu.

Tendo em conta padrões, normas e exigências museológicas internacionais, o MARGS conta com sistema de climatização (controle de temperatura e umidade) em suas reservas técnicas e espaços expositivos, além de Facility Report, oportunizando a conservação adequada das obras de seu Acervo Artístico e as condições de exibição de obras provenientes de empréstimos temporários de coleções e acervos de outros museus e instituições.

O MARGS conta com equipe própria de especialistas nas áreas de documentação, catalogação, conservação, restauro e educação em arte, além de profissionais responsáveis pelas atividades-meio de produção de exposições e eventos como expografia, designer gráfico e divulgação.

A partir de 2019, sob a direção de Francisco Dalcol, na figura de diretor-curador, implementou-se no MARGS uma linha de atuação institucional a par de discussões e problemáticas prementes a serem enfrentadas de modo (auto)crítico pelas instituições museológicas e artísticas, sobretudo por aquelas que se orientam pela busca de relevância e atualidade. Nesse empenho, assumiu-se como compromisso fundamental a defesa de premissas democráticas e de valores cidadãos, como inclusão, diversidade, pluralidade e representatividade.

Assim, estabeleceu-se como prioridade a pesquisa e a produção de conhecimento e experiências avançadas e aprofundadas a partir da arte, com o compromisso de democratizar o acesso a estes conteúdos por meio do desenvolvimento de ações e estratégias que envolvem a gestão museológica, o programa artístico-expositivo, a ação educativa, os programas públicos, a comunicação e difusão de conteúdos, bem como as Políticas Institucionais de Exposições e de Acervos, com os Comitês de Acervo e de Curadoria.

De outra parte, a direção artística fez do pensamento e da prática curatorial o epicentro da atividade do Museu, a partir de onde todas as ações, realizações e atividades passaram a ser desenvolvidas. Assim, o processo curatorial, que integra as responsabilidades de pesquisa e divulgação do Museu e se materializa numa cadeia de trabalho colaborativa entre funcionários e colaboradores, passou a englobar um fluxo de trabalho que compreende o ciclo completo de procedimentos técnicos, científicos e intelectuais relacionados à aquisição, interpretação, conservação e divulgação dos Acervos Artístico e Documental da instituição, bem como de concepção e desenvolvimentos de exposições. 

Do ponto de vista conceitual, o entendimento foi o de que o Museu deve trabalhar a memória artística em relação e envolvimento com o processo criador e a produção artística atual. Assim, a função de revisitar, reexaminar e reavaliar o passado artístico passou a ser dar em diálogo com manifestações, linguagens e investigações empreendidas pelos artistas no presente. Ou seja, o Museu focalizou a história da arte dando também lugar a pesquisas recentes em poéticas e linguagens visuais, enquanto instância de inserção e legitimação de novos valores e sentidos artísticos. Isso se relacionou a uma linha de pensamento que postula que, ao se criar aproximações entre a produção histórica e as práticas artísticas atuais, encontram-se modos de aprofundar e intensificar as formas de conhecimento e experiência sensível, renovando o entendimento e a compreensão sobre a arte.

Ao se voltar em grande parte aos Acervos Artístico e Documental do Museu, por meio de visibilidade e produção de conhecimento original a partir dessas coleções, outro aspecto que passou a orientar o pensamento e a prática curatorial no MARGS foi assumir um envolvimento mais crítico com os acervos. Isso levou ao exame de hierarquias, assimetrias e leituras consensuais que reiterariam a construção de um cânone entre as obras da coleção e no interior dela, cujo caráter excludente passou a ser reavaliado à luz das questões contemporâneas, em favor da exigência de maior compromisso com pluralidade, diversidade, inclusão, representatividade e equidade. Nessa orientação, assumiu-se o compromisso com questões como a necessidade de se descolonizar narrativas eurocêntricas, dessacralizar a retórica autoritária dos discursos canônicos, tensionar hierarquias preestabelecidas que reiteram os relatos dominantes, e explicitar as presenças e ausências no acervo e nas exposições.

Esse posicionamento foi acompanhando de abordagens curatoriais críticas capazes de articular aproximações e tensionamentos transhistóricos e transgeográficos, sem deixar de considerar que essas relações são atravessadas por marcadores sociais como gênero, classe, raça, etnia, geração e origem. Entendeu-se que essas premissas oferecem ferramentas analíticas em relação aos processos históricos que hoje reconhecemos como fortemente pautados pelo viés eurocêntrico e mesmo patriarcal e heteronormativo, a fim de implementar uma dinâmica de revisão e reescrita da história da arte que inclua outras e novas vozes e narrativas, mais plurais e diversas. 

Com base nessa fundamentação, a gestão iniciada em 2019 implementou uma linha de atuação institucional para o programa artístico e curatorial que conferiu protagonismo a projetos expositivos de concepção e execução própria pelo MARGS, os quais são propostos, concebidos e desenvolvidos pelo diretor-curador e suas equipes, colaboradores, profissionais envolvidos e instituições parceiras; entre mostras individuais e coletivas, com obras tanto de seus acervos artístico e documental como de outras coleções e procedências.

Desse modo, o MARGS passou a prioriza a realização de suas próprias exposições, além de apresentar, em complemento à programação, exposições propostas por iniciativa de terceiros ou que integrem programas institucionais específicos, os quais a instituição venha a receber e apresentar em seus espaços expositivos.

Com o objetivo de estabelecer eixos definidos como prioritários para a política de exposições — e comprometer o Museu com eles —, foram implementados quatro (04) programas expositivos em 2019, cada qual como uma finalidade e orientação específica. São eles:

a) “Acervo em movimento”

Programa de caráter permanente da atual gestão dedicado à exibição pública do acervo do MARGS. Trata-se de uma exposição de longa duração que opera com um modelo expositivo de rotatividade de obras da coleção do MARGS em exibição, mediante substituições periódicas. O projeto integra uma política institucional de exibição dedicada a explorar estratégias de abordagem do acervo do Museu por meio de exercícios curatoriais voltados à experimentação de estratégias expositivas em contexto museológico.

b) “História do MARGS como História das Exposições”

Programa que trabalha a memória da instituição abordando a história do museu, as obras e constituição de seu acervo e a trajetória e produção de artistas que nele expuseram, resultando em projetos curatoriais que revisitam, resgatam e reexaminam episódios, eventos e exposições emblemáticas do passado do MARGS, de modo a compreender sua inserção e recepção públicas.

c) “Histórias ausentes”

Programa voltado a projetos de resgate, memória e revisão histórica que procura conferir visibilidade e legibilidade a manifestações e narrativas artísticas, destacando trajetórias, atuações e produções artísticas, em especial àquelas não plenamente visibilizadas no sistema da arte e/ou pelos discursos dominantes da historiografia.

d) “Poéticas do agora”

Programa que destaca artistas com produção atual cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm se mostrado promissoras e relevantes no campo artístico contemporâneo, tendo por objetivo valorizar produções em poéticas visuais artísticas que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.

A programação se dá no âmbito do Programa Público do MARGS, coordenado pelo setor educativo, que passou a se chamar Núcleo Educativo e de Programa Público do MARGS, onde são concebidas as estratégias de mediação para as visitas de grupos e os eventos como cursos, palestras, conferências e simpósios que têm lugar no auditório, bem como os conteúdos especiais difundidos nos canais virtuais (site, email) e em nos perfis nas redes sociais (FacebookInstagram e YouTube).

Diretores/as do MARGS

Ado Malagoli (1954 a 1959)

Glênio Bianchetti  (1960 a 1962)

Francisco Stockinger  (1963 a 1964)

Carlos Scarinci (1964 a 1967)

Francisco Stockinger  (1967)

Gilberto Morás Marques  (1968 a 1972)

Antônio Hohlfeldt  (02/1972 a 06/1972)

Armando Almeida  (07/72 a 02/1973)

Flávio Rocha (03/1973 a 11/1973)

Kurt G. Schmeling  (12/ 1973 a 03/1974)

Plínio César Bernhardt  (04/1974 a 04/1975)

Luiz Inácio Franco de Medeiros  (05/1975 a 03/1979)

Jader Siqueira  (05/1979 a 09/1980)

Roberto Valfredo Bicca Pimentel — Tatata Pimentel (10/1980 a 03/1983)

Evelyn Berg Ioschpe  (04/1983 a 03/1987)

Vasco Prado, Carlos Scarinci e Mirian Avruch  (04/1987 a 07/1988)

Mirian Avruch  (07/1988 a 02/1991)

Albano Volkmer  (03/1991 a 11/1993)

Ernani Behs  (1993 a 1994)

Romanita Disconzi (1995 a 1996)

Paulo César Brasil do Amaral  (1997 a 1998)

Fábio Luiz Borgatti Coutinho  (1999 a 2002)

Paulo César Brasil do Amaral  (2003 a 2007)

Cézar Prestes (2007 a 2010)

Gaudêncio Cardoso Fidelis (2011 a 2014)

Paulo César Brasil do Amaral (2015 a 2018)

Francisco Eduardo Coser Dalcol (2019 — atual)

      Museu de Arte do Rio Grande do Sul | MARGS

Apoio e Realização