Pierre Fatumbi Verger — “Todos iguais, todos diferentes?” e “Orixás”

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul — MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura – Sedac, dá início às comemorações de seus 70 anos inaugurando 2 exposições que trazem a público a importante obra do fotógrafo Pierre Fatumbi Verger (1902 – 1996).

Apresentadas em uma parceria com a Fundação Pierre Verger — instituição sediada em Salvador (BA) dedicada à obra do fotógrafo, etnólogo, antropólogo e escritor francês — e com patrocínio do grupo GPS, as mostras “Todos iguais, todos diferentes?” e “Orixás” terão abertura no sábado, 24.06.2023, às 10h30, em evento aberto ao público e gratuito, e seguem em exibição até 08.10.2023.

Com curadoria de Alex Baradel, especialista responsável pelo acervo fotográfico da Fundação, as exposições abordam o olhar do fotógrafo e pesquisador Pierre Fatumbi Verger sobre a diversidade cultural e a influência recíproca da religiosidade nas culturas africanas e afro-brasileiras.

“Todos iguais, todos diferentes?” traz um recorte dos retratos feitos por Verger a partir de seus encontros nas viagens que realizou pelo mundo durante mais de 40 anos. São imagens que, a partir de seu olhar, ressaltam os aspectos da diversidade cultural e do respeito ao outro. 

“Orixás” traz uma seleção de fotografias que compõem o livro homônimo de Pierre Fatumbi Verger, reeditado pela Fundação Pierre Verger em 2018, que apresenta o resultado da pesquisa pioneira do artista sobre as influências culturais e religiosas recíprocas entre África e América.

As duas exposições são apresentadas no 1º andar expositivo do MARGS (Pinacotecas e sala Aldo Locatelli) e seguem em exibição até 08.10.2023, dando início a uma ampla programação comemorativa ao longo do próximo ano alusiva ao aniversário de 70 anos do MARGS, a ser celebrado em 27.07.2024.

A visitação é gratuita, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h). Visitas mediadas para grupos e escolas podem ser agendadas pelo email educativo@margs.rs.gov.br

>>> Veja o fôlder das exposições de PIERRE VERGER

“Todos iguais, todos diferentes?” 

A exposição “Todos iguais, Todos diferentes?” estreou em 2019, no Museu da Imagem e do Som — MIS, de São Paulo, e no começo de 2023, em seu retorno após a pandemia, passou pelo Museu de Arte do Rio — MAR, de onde chega agora ao MARGS.

A mostra traz uma seleção dos retratos captados por Verger, desde os anos 1930, em suas viagens pelos cinco continentes, apresentando homens e mulheres, velhos e jovens, comunidades ocidentalizadas ou permeadas pelas culturas ancestrais, anônimos ou famosos. 

No coração da obra fotográfica do artista, está a diversidade cultural, o encontro e o respeito pelo outro, e são esses aspectos que a exposição busca salientar.

São apresentadas dezenas de fotografias ampliadas em grande formato, além de placas de contato originais. A mostra também conta com uma projeção audiovisual com retratos de Verger, simultaneamente à leitura dos artigos da declaração universal dos direitos humanos. Além disso, traz depoimentos de artistas, antropólogos, linguistas, militantes e intelectuais provenientes de diversas culturas e países, que trazem problemáticas  dialogando com a ideia central da mostra: a importância da luta pela diversidade cultural e pelo respeito ao outro.

“Orixás”

A exposição “Orixás” reúne uma seleção de fotografias ampliadas em grande formato que compõem o livro homônimo de Pierre Fatumbi Verger, lançado pela primeira vez em 1981 e reeditado pela Fundação Pierre Verger, em 2018. 

O livro, considerado pela Folha de São Paulo como um dos 200 livros mais importantes para se entender o Brasil, compila, de forma plástica e poética, as pesquisas de Verger sobre a história e mitologia dos orixás nas religiões afro-brasileiras, sobretudo em Salvador e Bahia, além de destacar a origem desses rituais na cultura e nos mitos iorubás africanos em países como Nigéria, Daomé (atual Benin) e Togo. 

Ao realizar esses estudos em suas viagens desde a Bahia e Recife e até a região do Golfo de Benin, entre os anos 1948 e 1978, Verger se tornou pioneiro na pesquisa quanto às influências culturais e religiosas recíprocas entre África e América, tal como passaram a se dar a partir do século XVI, com a diáspora africana ocorrida em função do tráfico de negros escravizados.

Além das fotografias, a exposição também contará com o depoimento de Mãe Stella Oxóssi, ialorixá do terreiro Ilê Axe Opô Afonjá, terreiro que Verger era pessoalmente vinculado. O texto também introduz o livro “Orixás”, que estará à venda na Livraria e Loja do MARGS. “Orixás” reúne mais de 250 fotografias com textos originais.

 

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Por Francisco Dalcol
Diretor-curador do MARGS

Em uma parceria com a Fundação Pierre Verger, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul — MARGS e a Secretaria de Estado da Cultura — Sedac têm a honra e a satisfação de apresentar a exposição “Todos iguais, todos diferentes?”.

A mostra traz a público um amplo conjunto de fotografias realizadas por Pierre Verger (1902-1996), a partir de um recorte em sua vasta produção que enfatiza o “retrato do outro” e, portanto, o exercício de alteridade do olhar. São imagens que afirmam a diversidade e a pluralidade dos povos, como um registro do século 20, e que, ao mesmo tempo, relacionam-se aos debates críticos contemporâneos em torno de questões como as identidades culturais, as consequências do processo colonialista e os efeitos da globalização. 

Desse modo, assinalam a atemporalidade da obra deste fotógrafo, etnólogo, antropólogo e escritor. Um francês que, levado pelo interesse e disposição do seu olhar, percorreu o mundo e acabou fazendo do Brasil a sua casa, como consequência de seu mergulho no estudo e envolvimento com a cultura e a religião negras, das quais se tornou um especialista e cujo aprofundamento o levou a adotar, ainda nos anos 1950, o nome Pierre Fatumbi Verger.

Realizada pela Fundação Pierre Verger, sediada em Salvador, na Bahia, “Todos iguais, todos diferentes?” estreou em 2019, no Museu da Imagem e do Som — MIS, de São Paulo, e no começo de 2023, em seu retorno após a pandemia, passou pelo Museu de Arte do Rio — MAR, de onde chega. 

Assim, ao receber agora a mostra em Porto Alegre, o MARGS colabora com a continuidade de sua itinerância, integrado-se também a um circuito nacional de instituições. “Todos iguais, todos diferentes?” chega ainda acrescida, trazendo dentro dela uma outra exposição, intitulada “Orixás” e que igualmente aborda a fotografia de Verger, como uma seção da grande mostra apresentada no amplo e nobre espaço das Pinacotecas do Museu.

Trata-se ainda de um reencontro, após 16 anos, em sequência à exposição “O Brasil de Pierre Verger”, que a Fundação dedicada ao artista trouxe ao MARGS em 2007. A curadoria foi também de Alex Baradel, especialista responsável pelo acervo fotográfico de Verger, e que desta vez nos apresenta um outro e renovado olhar sobre a fotografia deste artista. Nesse sentido, as duas mostras agora apresentadas em 2023 integram o programa expositivo “História do MARGS como História das Exposições”, que trabalha a memória da instituição abordando a história do museu, as obras e constituição de seu acervo e a trajetória e produção de artistas que nele expuseram, a partir de projetos curatoriais que revisitam, resgatam e reexaminam episódios, eventos e exposições emblemáticas do passado do MARGS, de modo a compreender sua inserção e recepção públicas.

O MARGS e a Sedac agradecem, pela oportunidade, à Fundação Pierre Verger, aos profissionais envolvidos e aos apoiadores e patrocinadores que tornam possível este projeto.

 

TEXTO CURATORIAL 

Por Alex Baradel 
Curador das exposições
Responsável pelo acervo fotográfico da Fundação Pierre Verger

Enquanto as culturas ocidentais se impuseram e ainda se impõem, pela violência ou através da economia de mercado, sobre a imensa diversidade cultural dispersa ao redor do nosso planeta, Pierre Fatumbi Verger foi, por meio de sua obra, não somente um dos primeiros fotógrafos a afirmar a importância das outras culturas, mas também, através de seu percurso, um dos poucos a adotar uma outra forma de viver e de pensar. Assim, sua obra fotográfica, realizada no século 20 e baseada na busca do encontro com o outro, nos toca pela sua diversidade, pela sua sinceridade e pelo aspecto inovador da vida de um homem Pierre Verger que nasceu ocidental, renasceu africano Fatumbi e passou o fim da sua vida na América do Sul, na Bahia, após muitas viagens e imersões nas culturas dos cinco continentes.

As centenas de fotografias selecionadas dentro de milhares de retratos realizados por Verger ao redor do mundo, respiram diversidade e respeito, características reforçadas pelos curtos depoimentos apresentados na exposição e que trazem reflexões identitárias, afirmando a necessária coexistência de diversas formas de pensar e de existir.

Os retratos de Verger não só mostram a diversidade cultural do nosso mundo, mas também funcionam como um espelho daquilo que Verger desejava ser: experimentar ser o outro. Eles expressam uma das contradições mais importantes, universais e indispensáveis para um mundo harmonioso, mas que é raramente aceita: somos todos iguais mesmo expressando tantas diferenças; somos todos diferentes, ainda que no fundo sejamos iguais ou, pelos menos, deveríamos sê-lo.

 

O CURADOR 

Alex Baradel nasceu na França, em 1973, e fez pós-graduação em história da arte/cinema na Universidade Paris VIII (França) antes de trabalhar na integração de documentos audiovisuais em tecnologia interativa na empresa Syrinx (1993 – 1999). Filmou cerimônias africanas na cidade de Bobo-Dioulasso (Burkina Faso, África) para realizar um documentário sobre a evolução cultural das sociedades (2000). É responsável pelo acervo fotográfico da Fundação Pierre Verger desde 2001 até hoje e realiza visitas virtuais de espaços culturais, de exposições e de museus desde 2017. Fez a curadoria de diversas exposições sobre Pierre Verger, notadamente “O Brasil de Pierre Verger” (MAM São, Paulo, MAM Rio de janeiro, MAM Salvador, MARGS – 2005-2007),” Pierre Verger, de um Mundo ao Outro” (Salvador, Palacete das Artes – 2011), ”As aventuras de Pierre Verger” (MAM Salvador, Museu Afro-Brasil  São Paulo – 2015), “Orixá”  (Museu da Fotografia de Fortaleza – 2018), “Todos iguais, todos diferentes?” (MIS São Paulo, MAR Rio – 2019-2023) e “Pierre Verger, Percursos e Memórias” (Instituto Tomie Ohtake – 2022). Publicou livros sobre a obra de Pierre Verger: “O Brasil de Pierre Verger” (2005) e  “Memórias de Pierre Verger” (2011). Realizou audiovisuais apresentados em mostras: “Olhares nômades” (2008), “Memórias de Pierre Verger” (2015) e “Interiores” (2016). Concebeu e fez a curadoria, em 2016, do Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana, espaço permanente sobre a fotografia baiana, localizado no Forte de Santa Maria, em Salvador.

 

PIERRE FATUMBI VERGER 

Pierre Edouard Léopold Verger (1902 – 1996) foi um fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês que viveu grande parte da sua vida na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, no Brasil. Ele realizou um trabalho fotográfico de grande importância, baseado no cotidiano e nas culturas populares dos cinco continentes. Além disso, produziu uma obra escrita de referência sobre as culturas afro-baiana e diaspóricas, voltando seu olhar de pesquisador para os aspectos religiosos do candomblé e tornando-os seu principal foco de interesse.

Iniciou como fotógrafo em 1932, após aprender as técnicas básicas com um amigo. De 1932 a 1946, viajou ao redor do mundo, sobrevivendo exclusivamente de fotografia. Ele fotografou para jornais, agências, centros de pesquisas e empresas. Em 1946, desembarcou em Salvador. Ali, descobriu o candomblé e se tornou um estudioso do culto aos orixás.

Seu interesse pela religiosidade de origem africana lhe rendeu uma bolsa para estudar rituais na África, para onde partiu em 1948. Na década de 1950, Verger começou a trabalhar como pesquisador para o Instituto Francês da África Negra (IFAN) que, para além dos negativos apresentados, exigiu que ele escrevesse sobre o que tinha visto. A história, os costumes e, principalmente, a religião praticada pelos povos iorubás e seus descendentes, na África Ocidental e na Bahia, passaram a ser os temas centrais de suas pesquisas e sua obra. Muitas de suas pesquisas foram transformadas em artigos, comunicações e livros.

Verger teve iniciação religiosa na Bahia. Na África, foi rebatizado, em 1953, com o nome de Fatumbi, que significa “nascido de novo graças ao Ifá”. Após ter adquirido muitos conhecimentos sobre as culturas fon-yorubanas, passou a ser considerado babalaô — um adivinho através do jogo do Ifá, com acesso às tradições orais dos iorubás. Em Salvador, tornou-se personagem importante em certos terreiros históricos da cidade, principalmente no Ilê Axé Opô Afonjá e no Terreiro do Gantois, além de ter sido um dos envolvidos na criação do terreiro Ilê Axé Opô Aganju, em 1972.

O fotógrafo fixou residência na Bahia. Em sua casa, recebia visitas cotidianas de pesquisadores, artistas e do povo do candomblé, que iam até sua casa para pesquisar em sua biblioteca especializada em cultura africana e afro-brasileira. Em 1988, o artista criou a Fundação Pierre Verger (FPV) e transformou sua casa na sede da Fundação e num centro de pesquisa.  

 

FUNDAÇÃO PIERRE VERGER 

A Fundação Pierre Verger foi oficialmente criada em 1988 e, desde então, tem funcionado na mesma casa modesta em que Pierre Fatumbi Verger viveu por décadas na Ladeira da Vila América, em Salvador, na Bahia. 

O seu acervo inclui mais de 62 mil negativos fotográficos, mais de 11 mil ampliações, gravações sonoras, filmes em película e vídeo, bem como uma coleção preciosa de documentos, fichas, correspondências, manuscritos e objetos. 

Os principais serviços oferecidos pela instituição são a disponibilização do acervo para o público em geral e pesquisadores (biblioteca, acervo fotográfico e acervo pessoal de Verger), o apoio à pesquisa para aqueles que desejam utilizar a obra de Verger, a permissão para o uso de fotografias em todos os formatos mediante solicitação e seguindo os procedimentos vigentes, a venda de ampliações analógicas produzidas a partir dos negativos originais, a disponibilização de oficinas gratuitas para o público em geral e, principalmente, para a comunidade do bairro do Engenho Velho de Brotas. 

Através do Espaço Cultural Pierre Verger, a instituição promove a cultura e a educação no contexto comunitário e estimula a participação cidadã. A Fundação Pierre Verger também tem um papel importante na valorização da fotografia baiana, incentivando a produção local e promovendo exposições em sua galeria, como é o caso do projeto “16 ensaios baianos”, e outros eventos que destacam a qualidade do trabalho de outros fotógrafos baianos. 

Para garantir a manutenção do seu acervo e do Espaço Cultural, a Fundação Pierre Verger depende do recebimento de direitos autorais e da venda de obras e produtos estampados com fotografias de Pierre Verger. 

 

SERVIÇO

Exposições “Todos iguais, todos diferentes?” e “Orixás”, de Pierre Verger

Quando: abertura dia 24.06.2023, às 10h30, em evento aberto ao público. Em exibição até 08.10.2023

Onde: 1º andar expositivo do MARGS (Pinacotecas e sala Aldo Locatelli). O Museu se localiza na Praça da Alfândega, s/n°, no Centro Histórico de Porto Alegre, RS — Brasil — 90010-150

Visitação: terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h), com entrada gratuita

Contato imprensa: Núcleo de Comunicação e Design do MARGS

comunicacao@margs.rs.gov.br margsmuseu@gmail.com

 

MARGS | MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL 

Instituição museológica pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, voltada à história da arte e à memória artística, assim como às manifestações, linguagens, investigações, pesquisas e produções em artes visuais.

O MARGS realiza seus projetos por meio de patrocínios como pela Lei de Incentivo à Cultura Federal. O projeto do Plano Anual 2023, gerido pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS), está identificado pelo PRONAC 223047 sob o nome “Exposições de Artes Visuais no MARGS”.

Patrocínio direto:

Banrisul

Patrocínio:

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE

CMPC Celulose Riograndense Ltda

Vero Banrisul

Gerdau

Apoio:

Café do MARGS

Banca do Livro

Bistrô do MARGS

Arteplantas

iSend

Realização:

AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

SEDAC – Secretaria de Estado da Cultura do RS / Governo do Estado do Rio Grande do Sul

Ministério da Cultura / Governo Federal

MARGS

Praça da Alfândega, s/n°

Centro Histórico, Porto Alegre, RS, 90010-150

Visitação de terça a domingo, 10h às 19h, entrada gratuita

Telefone: (51) 3227-2311

Site: www.margs.rs.gov.br

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Instagram: www.instagram.com/museumargs

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