Organicidade: o percurso de Esther Bianco entre a pintura e a gravura

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul apresenta a exposição “Organicidade” , de Esther Bianco, com abertura dia 18 de fevereiro, às 19h, no MARGS. O catálogo, com organização de Vera Pellin, será dia 10 de março, às 19h no museu. A curadoria é de Ana Flávia Baldisserotto.

A mostra pode ser visitada de terças a domingos, de 19 de fevereiro a 23 de março, das 10h às 19h. A entrada é franca.

 

A Mostra

A exposição Organicidade apresenta uma visão do percurso da artista gaúcha Esther Bianco entre a pintura e  a gravura ao longo dos últimos quarenta anos.

Na primeira porção da mostra acompanhamos um amplo conjunto de pinturas  produzidas em período mais recente – anos 2000 – no qual a artista vem explorando o imaginário poético suscitado por uma mesma fonte geradora: a noção de rede. Cidades, mapas, trajetos, o movimento dos corpos, células e tecidos, circuitos de informação, campos do conhecimento, a observação de plantas, famílias, constelações, galáxias. Tudo rede, sistema, tecido, vida: trama e urdidura. A percepção da realidade biológica, social, cultural e cósmica como uma sobreposição de complexos sistemas entrelaçados e interdependentes é o princípio de ativação do plano pictórico, aqui.  Em sua lógica intrincada, as redes de  Esther se sustentam no cruzamento incansável de linhas e manchas, continuidades e rupturas. São estruturas que se organizam entre o estático e o dinâmico, o orgânico e o arquitetônico, a luz e a escuridão, a forma e o informe, caos e ordem, em uma profusão de jogos e tensões entre polaridades abertas.

Na segunda sala, encontramos uma pequena amostra da abundante produção pictórica de Esther Bianco dos anos 80 e 90. Animais  e plantas em suas metamorfoses inconscientes, o masculino e o feminino, seus encontros e desencontros, personagens da literatura gaúcha, como os anjos de Mário Quintana, são alguns dos temas com que se ocupou neste período. Em sintonia com as características históricas desta geração em nosso meio,  neste período a artista se dedica à pinturas de grande formato onde a figuração  e a transfiguração são exploradas no limite de uma certa abstração. São corpos que ora se afirmam claramente e ora se diluem em grandes zonas de manchas eloquentes, igualmente protagonistas.

Finalizando este percurso, a última sala apresenta um conjunto inédito de gravuras em metal, linguagem a qual Esther vem se dedicando de forma ininterrupta desde os anos 80, em paralelo a sua produção em pintura.  A seleção para esta sala buscou traçar uma breve retrospectiva,  cotejando a cronologia com núcleos temáticos e estruturais que irão se desdobrar ao longo dos anos, ora acompanhando sua produção em pintura, ora como tema exclusivo de sua produção gráfica, como é o caso da série dedicada às águas. Neste núcleo de gravuras é possível identificar claramente a importância de algumas linhas formadoras do pensamento da artista: a observação  e narrativa de natureza social,  as pequenas anotações sobre o cotidiano, a figuração de natureza expressionista, os ecos distantes de uma abstração geométrica traduzida em uma organicidade intuitiva.

Organicidade: a qualidade daquilo que é orgânico, inerente ao organismo, relativo à constituição íntima e fundamental de tudo que é vivo. Na produção artística de Esther, não há perguntas ou respostas destinadas ao intelecto, à fome que a racionalidade  humana  nutre por responder às grandes perguntas existenciais: o que é a vida? como se originou? qual seu propósito e destino?  No entanto, de alguma forma, há saberes que o corpo pressente no corpo do mundo, que a mão sonda e o olho intui. Daí a pluralidade de leituras, ressonâncias e impressões poéticas que seu trabalho gera, a marca de seu frescor e singularidade.

Ana Flávia Baldisserotto

 

 

A Artista

Esther Bianco é artista plástica formada pela UFRGS (1961). Pintora e gravadora, com exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Possui obras em acervos públicos e privados, sobretudo na França, Itália, Holanda, Alemanha, Portugal, Inglaterra e Brasil. Lecionou na Universidade de Passo Fundo, na década de 60. Atuou na militância estudantil, durante a graduação no Instituto de Artes, mantendo-se engajada nas questões sociais e culturais ao longo de sua trajetória, destacando sua participação na criação do Núcleo de Gravura / RS e na diretoria da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa. Cursou inúmeros ateliês de pintura e gravura, com destaque para os ministrados por: Ado Malagoli, Aldo Locatelli, Fernando Baril, Luiz Paulo Baravelli, Michael Chapman e Luiz Pizzarro, em pintura; e Carlos Martins, Paulo Perez, Branca Oliveira, Armando Almeida, Yole di Natali, Nilza S. Haertel, Danúbio Gonçalves, em gravura. Cursou ainda cerâmica com Vilma Villaverde, bem como escultura em madeira com Anestor Tavares, no Atelier Livre da Prefeitura.

Apoio e Realização