Elias Maroso — Vida que Sobra

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul — MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura — Sedac, e o Museu do Trabalho apresentam a exposição Elias Maroso — Vida que Sobra. Com abertura no dia 20.09.2025, às 10h30min, a mostra segue em exibição nas Salas Negras do Museu até 30.11.

A mostra, que tem curadoria da convidada Marina Câmara, apresenta um conjunto de trabalhos de Elias Maroso, a maior parte deles inéditos, que dão uma amostra da pesquisa e trajetória do artista nos últimos 15 anos, com destaque para o modo como explora os usos da tecnologia na produção artística. Assim, Vida que Sobra é a primeira exposição individual panorâmica de sua carreira. 

Elias Maroso (Sarandi/RS, 1985) atua como artista, pesquisador e professor, desenvolvendo uma produção de forma multidisciplinar, para além da área de sua formação inicial, o desenho artístico. Sua poética abrange tanto o bidimensional quanto o tridimensional, na forma de desenhos, instalações, animações, gravuras e outros ensaios gráficos, além de envolver suas inquietações artísticas com incursões nas áreas da biologia, física, filosofia e ciências políticas.

A obra de Maroso já foi apresentada coletiva e individualmente em diversas exposições nacionais e internacionais, dentre elas as edições da 7ª, 8ª e 13ª da Bienal do Mercosul, e integra acervos em instituições artísticas de cidades do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (neste caso, em parceria com The Exploratorium: the museum of science, art, and human perception, Califórnia, EUA). Desde 2022, está presente no acervo do MARGS.

Vida que Sobra traz proposições emblemáticas da trajetória de Maroso, voltadas a implicações políticas e imagéticas sobre o cotidiano urbano, como também a sua produção recente, atenta a formas de precarização do trabalho, agravadas por inovações tecnológicas. São apresentados tanto recursos poéticos tradicionais quanto inovadores/tecnológicos, abarcando as linguagens do desenho, da fotografia e ensaios gráficos, bem como a construção de peças tridimensionais por prototipagem seriada digital, além da produção de circuitos eletrônicos para efeitos luminosos e dispositivos robóticos autônomos.

Originalmente integrante da programação do Museu do Trabalho, a exposição é apresentada pelo MARGS em uma colaboração relacionada ao contexto da enchente de 2024, quando ambas as instituições foram afetadas pela inundação do Centro Histórico de Porto Alegre e passaram a somar esforços em seus processos de recuperação.

Adaptada para o MARGS, Elias Maroso — Vida que Sobra integra o programa expositivo “Poéticas do agora”, voltado a artistas com produção atual cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm-se mostrado inovadoras e relevantes no campo artístico contemporâneo. Seu objetivo é valorizar produções que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.

O MARGS é uma instituição da Sedac. O plano de recuperação, exposições e atividades educativas do Museu conta com patrocínio direto do Banrisul e com patrocínios via Lei de Incentivo à Cultura Federal do Santander, da Hyundai e da EDP.

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

O MARGS tem o prazer de apresentar Elias Maroso — Vida que Sobra, exposição que resulta de uma parceria com o Museu do Trabalho.

Atingidas pela enchente de maio de 2024 em Porto Alegre, ambas as instituições somaram esforços no contexto que se seguiu ao maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul. No caso do MARGS, o Museu do Trabalho foi um colaborador de primeira hora, ao emprestar as secadoras de gravura de suas oficinas para o processo de desumidificação e estabilização das obras em papel do acervo que foram afetadas.

Com o impedimento do Museu do Trabalho em retomar a sua programação, a reabertura do MARGS permitiu retribuirmos. Assim, assumimos a realização de um projeto originalmente pensado para a instituição parceira, em convergência com a linha de atuação do MARGS, uma vez que Maroso passou a integrar o nosso acervo em 2022, com o ingresso da obra que apresentou ao participar da 13ª Bienal do Mercosul naquele ano, e já exibida em mostras coletivas apresentadas até aqui.

Adaptado para as Salas Negras do MARGS, o projeto apresenta um conjunto de trabalhos, a maior parte deles inéditos, que dão uma amostra da pesquisa e trajetória do artista nos últimos 15 anos, com destaque para o modo como explora os usos da tecnologia na produção artística. Desse modo, Vida que Sobra se torna a primeira individual panorâmica de Maroso em Porto Alegre.

Por tudo isso, a exposição integra no MARGS o programa expositivo “Poéticas do agora”, voltado a artistas com produção atual cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm-se mostrado inovadoras e relevantes no campo artístico contemporâneo. Seu objetivo é valorizar produções que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.

O MARGS agradece pela oportunidade a Maroso, à curadora Marina Câmara e a Hugo Gusmão, diretor do Museu do Trabalho, além de todos os profissionais e técnicos participantes e da equipe do Museu envolvida.

Francisco Dalcol
Diretor-curador MARGS

 

O ARTISTA E A EXPOSIÇÃO

Elias Maroso (Sarandi/RS, 1985) é artista e pesquisador, desenvolvendo uma poética de forma multidisciplinar, para além da área de sua formação inicial, o desenho artístico. Sua produção abrange o bidimensional e o tridimensional, com ações específicas para diferentes contextos de inserção artística, na forma de desenhos, instalações, animações, gravuras e outros ensaios gráficos, além de envolver suas inquietações artísticas com incursões nas áreas da biologia, física, filosofia e ciências políticas.

“Sem restrição de meios e fontes de pesquisa, faço ensaios gráficos, diagramas eletrônicos, intervenções de rua, sinalizações para ambientes fechados, abscessos de alvenaria e pulsos energéticos que podem atravessar de uma até duas paredes”, segundo ele próprio.

As pesquisas empreendidas por Maroso, e que se manifestam poeticamente em Vida que Sobra, examinam a precarização do trabalho em tempos de capitalismo tardio e o estatuto da figura do artista contemporâneo – também colocado pela nossa sociedade no lugar de uma sobra ou de phármakon: muitas vezes veneno, quando seu trabalho produz pensamento crítico; outras vezes remédio, quando apazigua, entretém ou decora.

Elias Maroso:

— Doutor em Artes Visuais pela UFRGS e professor da instituição. 

— Membro-fundador do projeto Sala Dobradiça, de Santa Maria (RS), com o qual participou da 7ª e 8ª Bienal do Mercosul. 

— Realizou trabalhos no Druckwerkstatt, Kunst Quartier Bethanien (Berlim/Alemanha), via Goethe-Institut, e para o Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea, além de ser indicado ao Prêmio PIPA de Arte Contemporânea, sendo finalista do Prêmio PIPA Online 2020. 

— Em 2021, desenvolveu obras para o Programa CoMciência da MM Gerdau e participou da 13ª Bienal do Mercosul. 

— Já apresentou suas realizações artísticas no Itaú Cultural (São Paulo), no espaço Ruby Cruel (Londres) e no 28th International Symposium on Electronic Art (Paris). 

— Possui obras nos acervos institucionais do MARGS; Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (Passo Fundo); Museu de Arte de Santa Maria; Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Pelotas); Centro de Arte, Ciência e Tecnologia SESI LAB (Brasília); Instituto PIPA (Rio de Janeiro); e Fundação Itaú Cultural (São Paulo).

 

TEXTO CURATORIAL

Em Vida que Sobra, somos conduzidos a questões poéticas de matriz político-filosófica características da pesquisa do artista Elias Maroso. Exploradas em instalações, objetos, desenhos, máquinas e um jogo, compõem um conjunto de obras, apresentadas nos dois ambientes das Salas Negras do MARGS, que perguntam “o que pode sobrar?” e “como fazer restar vida?”, ao mesmo tempo que denunciam o drama do estatuto do trabalho em tempos de Capitalismo tardio, incluindo aí o papel do trabalhador da arte contemporânea. 

O título da exposição é, não intencionalmente, quase homônimo ao nome do livro O tempo que resta, de Giorgio Agamben, no qual lemos: “[…] a mente humana tem a experiência do tempo, mas não a sua representação, e deve por isso recorrer, para representá-lo, a construções de ordem espacial”. Se no livro temos uma longa digressão sobre a forma de sequência retilínea e numérico-progressiva que passou a representar a nossa experiência do tempo desde o advento do cristianismo, nesta exposição as consequências dessa linearização e homogeneização do tempo são investigadas, ao passo em que o artista experimenta formas de saída dessa lógica: claramente a arte, e também o prazer. Diante do sequestro do tempo humano pelo trabalho, em que cada instante da vida é, cada vez mais, cronometrado e esquadrinhado pela sua relação com o capital, uma das formas de lidar com essa realidade foi, para o artista, poetizar o dinheiro, produzindo som a partir da vibração de cédulas do Real. 

Enunciada, por exemplo, pelos grids e pela geometrização de alguns elementos visuais da exposição, a captura do nosso tempo de vida é respondida pelo artista a partir da ideia de sobrar, que lemos no título. Aqui, a vida que sobra é a vida que excede, forjando saídas diante das constantes tentativas de sua captura. “Uma vida tão vida, que vai além do que precisa. Uma certa exuberância”, como diz Elias. Vida que Sobra trata de um excesso que, ao contrário de ser acumulado, é perdido, tal qual acontece na natureza ou no sexo, tal como proposto por Georges Bataille: “Um excedente deve ser dissipado por meio de operações deficitárias: a dissipação final não poderia deixar de realizar o movimento que anima a energia terrestre.”

Ouvimos, em um dos ambientes, onças-pintadas (Duas de cinquenta), araras-vermelhas (Duas de dez), micos-leões-dourados (Duas de vinte) e as águas em que nadariam as tartarugas-de-pente (Duas de dois). São rumores típicos de uma paisagem natural, emitidos por animais-cédulas ameaçados de extinção, e que também podem sugerir ASMR, a resposta automática de relaxamento e prazer produzida pelo organismo de algumas pessoas quando estimuladas por determinados sons. A cada vez que os sons dos animais são emitidos, um led rítmico se acende, iluminando placas de acrílico em formas que lembram órgãos. Nas bordas das placas, lemos ora uma onomatopeia de risada humana, ora din-din e mata rica. Os sinais sonoros e luminosos seriam um alerta? Ou os já ouvimos postumamente, em um cenário distópico? A vinculação de animais com cédulas existe pelo menos desde que as moedas atenienses, na Antiguidade, não só traziam a imagem de uma coruja gravada em relevo na prata, como a palavra coruja era, em si, sinônimo de dinheiro.

Comparação entre, por um lado, as imagens sagradas de diferentes religiões e, por outro, as notas de banco de diferentes Estados.

Walter Benjamin

No centro da sala, está Maca de dormir, cujo estofado traz imagens das formas corpulentas que vemos nas placas de acrílico e em outras partes da exposição. Elas lembram glandes, gomos (botões) de tulipas, pulmões etc., formas que dobram-se sobre si mesmas: é a chamada invaginação embrionária ou primária, movimento que dá origem às terminações orgânicas e à morfologia de embriões. Ao invaginar quem nela dormir, a Maca devolveria à pessoa as pulsões de vida tomadas pela captura do tempo? “Durante esse tempo suspenso, recuperamos capacidades perceptivas […]. Involuntariamente, adquirimos uma sensibilidade e uma capacidade de atenção a sensações tanto internas quanto externas”, conforme Jonathan Crary em 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono. Ainda que aceitemos o convite do artista à reivindicação do nosso direito ao escuro e ao sono, há, instalado abaixo da Maca de dormir, um cronômetro.  

[…] O capitalismo não tem somente origens religiosas, ele mesmo é uma religião, um culto incessante, sem trégua nem piedade, que conduz o planeta humano à Casa do Desespero. […]  O capitalismo é a celebração de um culto sans rêve et sans merci [sem sonho e sem piedade]. Não há nele nenhum “dia de semana”, nenhum dia que não seja de festa no sentido terrível do desdobramento de toda pompa sagrada, da tensão extrema do adorador.

Walter Benjamin


Dentre os desenhos expostos, Máquina desenhante 01 retrata motoboys dormindo sobre suas próprias motos, enquanto uma máquina desenha várias vezes a letra Z. Aqui vale lembrar os já tão discutidos ready-mades, mas cujas origens talvez não tenham sido tão exploradas. Suas articulações foram feitas por Marcel Duchamp ao assistir à encenação do romance Impressões de África, de Raymond Roussel, no qual máquinas primitivas trabalhavam por mecanismos que terminavam produzindo arte. De acordo com Rosalind Krauss: “Ao automatizarem a produção artística […] as máquinas chegam a um resultado no qual a estrutura da imagem está absolutamente desvinculada da estrutura psicológica e emocional do indivíduo que dá início à arte, que põe a máquina em funcionamento”. 

E que tragédia é esta? A tragédia é que não existem mais seres humanos; só se veem singulares engenhocas que se lançam umas contra as outras.

Pier Paolo Pasolini


Ao assistir à peça em 1911, Duchamp enxergou a possibilidade de burlar a noção de autoria, tendo ali o insight de não travar com os ready-mades uma relação tradicional na condição de seu autor. As máquinas de Vida que Sobra são, ao contrário, a necessidade da afirmação da vida diante de um sistema no qual o próprio ser humano é um empecilho à acumulação ilimitada e sem fim, 24 horas, 7 dias por semana, o 24/7.

O sono ainda segue sendo uma das poucas possibilidades de não se obter produtividade de um ser humano: “nenhum valor pode ser extraído do sono. […] A inércia restauradora do sono se coloca contra a letalidade da acumulação, da financeirização e do desperdício”, dirá Crary. A sua privação é uma das torturas mais violentas que se possa lançar mão contra alguém, usadas por exemplo em Guantánamo, com o objetivo de atingir aquilo que o autor chamou de “aniquilamento calculado de um indivíduo” por conduzi-lo a “estados abjetos de submissão”, ainda segundo Crary.

Se a hiperiluminação via holofotes faz parte de mecanismos de controle e vigilância desde pelo menos 1791, com o sistema cárcero-disciplinar Pan-óptico, desenvolvido por Jeremy Bentham, nunca é demais lembrar do artista que tão poeticamente reivindicou, desde o início dos anos 1940,  a penumbra intermitente, simbolizada pelos vaga-lumes, estes animais que “são machos e fêmeas, se iluminam para chamar e chamam para copular” e que representam, segundo Pasolini, a “energia revolucionária própria dos miseráveis, dos excluídos do jogo político corrente”, energia pela qual Elias Maroso advoga, dando Murro em ponta de faca, até que a arma se dobre. 

Marina Câmara
Curadora da exposição. Professora adjunta do Instituto de Artes da UFRGS, Pós-doutora pelo Departamento de Letras Modernas da FFLCH-USP, Doutora em Artes pela EBA-UFMG (período sanduíche na Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne) 

 

FICHA TÉCNICA

Concepção artística geral: Elias Maroso

Desenho e prototipagem técnica geral: Elias Maroso

Curadoria: Marina Câmara

Assistência de produção artística: Felipe Felipe Quevedo e Lael Peters

Assistência de produção em engenharia eletrônica: Fillipe Welausen

Assistência de fabricação em prototipagem digital: Eduardo da Silva Pereira e Tiago de Vasconcellos Pinheiro

Montagem: Petroli

Equipe MARGS: Núcleo de Curadoria e Programa Público (Ana Chini, Cristina Barros, José Eckert, Sofia Mazzini), Núcleo de Comunicação e Design (Laura Caetano, Natália Gomes, Natália de Moraes) e Núcleo Administrativo (Milene Coelho)

 

SERVIÇO

Exposição “Elias Maroso – Vida que Sobra”

Onde: Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) – Praça da Alfândega, s/nº, Centro Histórico, Porto Alegre

Abertura: 20.09.2025, às 10h30

Visitação: até 30.11.2025, de terça a domingo, das 10h às 19h (último acesso às 18h)
Entrada gratuita

 

 

 

MARGS | MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL 

Instituição museológica pública, da Secretaria de Estado da Cultura do RS, voltada à história da arte e à memória artística, assim como às manifestações, linguagens, investigações, pesquisas e produções em artes visuais. O MARGS realiza seus projetos por meio de patrocínios como pela Lei de Incentivo à Cultura Federal.  O plano de recuperação do Museu conta com o PLANO BIANUAL MARGS 2025-2026, gerido pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS) e identificado pelo PRONAC: 247296.

Patrocínio direto:

Banrisul

Patrocínio:

Santander

EDP

Hyundai

Apoio:

Tintas Renner

iSend

Café do MARGS

Banca do Livro

Arteplantas

Realização:

AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

SEDAC – Secretaria de Estado da Cultura do RS / Governo do Estado do Rio Grande do Sul

MINC – Ministério da Cultura

MARGS

Praça da Alfândega, s/n°

Centro Histórico, Porto Alegre/RS, Brasil, CEP 90010-150

Visitação de terça a domingo, 10h às 19h (último acesso 18h), entrada gratuita

Telefone: +55 (51) 3286-2597

Site: www.margs.rs.gov.br

Facebook: https://www.facebook.com/museumargs

Instagram: www.instagram.com/museumargs

Apoio e Realização