Camila Proto — TERRALÍNGUA

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS – Sedac, apresenta a exposição “Camila Proto — TERRALÍNGUA”

Aberta para visitação a partir do sábado, dia 01.07.2023, em evento de inauguração às 10h30 aberto ao público, a mostra segue em exibição até 08.10.2023, ocupando as Salas Negras do MARGS, no 1º andar do Museu.

A visitação é gratuita, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h). Visitas mediadas para grupos e escolas podem ser agendadas pelo email educativo@margs.rs.gov.br

Com curadoria do pesquisador Diego Hasse, a exposição individual apresenta um panorama da produção artística de Camila Proto (Porto Alegre, 1996) em anos recentes, destacando obras inéditas ou que ganham nova versão. A pesquisa da artista se caracteriza pela articulação entre elementos visuais e sonoros, por meio de projetos envolvendo instalações tecnológicas, interativas e imersivas nas quais emprega diversas mídias e suportes. 

Com apoio e colaboração do MARGS para sua realização, a exposição “Camila Proto — TERRALÍNGUA” é apresentada integrando o programa expositivo do Museu intitulado “Poéticas do agora”, voltado a artistas atuais cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm se mostrado promissoras e relevantes no campo artístico contemporâneo, tendo por objetivo destacar produções que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos. A exposição também integra a ampla programação comemorativa ao longo do próximo ano, alusiva ao aniversário de 70 anos do MARGS, a ser celebrado em 27.07.2024.

Em suas práticas artísticas e investigações poéticas, Camila Proto propõe a criação de situações ficcionais nas quais a ciência é convocada para o campo da imaginação e da especulação, explorando como podemos pensar em relações formativas, inventivas e de tradução entre mundo e linguagemA artista desenvolve trabalhos que nos convidam a inventar, junto com ela, como a palavra e o som poderiam criar certas geografias e, inversamente, como poderíamos traduzir o que se pode entender por escritas não-humanas feitas pela Terra. O próprio título da mostra, “Terralíngua”, é um indicativo que já aponta para essa correlação, ao justapor as palavras “terra” e “língua”. 

Nas palavras do curador Diego Hasse:

“A artista explora as potencialidades da linguagem, da imagem e do som, bem como os diálogos transdisciplinares entre arte e ciência. De tais relações, eclodem trabalhos materializados em diferentes mídias e suportes.”

Assim, no conjunto de obras apresentadas na exposição, somos convidados a imaginar, por exemplo, a possibilidade de o som da cidade de Porto Alegre criar algo como uma ilha sonora no rio Guaíba. Ou a observar um protótipo de fonógrafo capaz de ler as ranhuras e microrrelevos das conchas, traduzindo para nós, numa espécie de escavação do som, as camadas de tempo, arquivos e histórias esculpidas nesses relevos pelos animais que ali habitavam. Outras obras convidam a escutar o que as erosões geológicas feitas por marés teriam a dizer, assim como a inventar o modo como soam nossas cavidades internas. E, ainda, a indagar relações entre parâmetros geográficos e geológicos com parâmetros musicais, de modo que possamos, por um lado, escutar os relevos da terra, traduzindo sonoramente suas formas, e, por outro, materializar o som, inventando sua forma e sua geografia.   

A exposição integra o projeto “TERRALÍNGUA”, que acompanha ainda o lançamento de um livro-catálogo de autoria da artista que reúne escritas sobre o processo das obras, conversas com o curador Diego Hasse e outros textos críticos, de nomes como André Araújo, Anelise De Carli, Luis Felipe Abreu, Léo Tietboehl, Juliana Proenço e Daniela Avellar. 

Abaixo, seguem mais informações

 

TEXTO CURATORIAL 

Por Diego Hasse
Curador da exposição
Mestre e doutorando em Artes Visuais — História, Teoria e Crítica

O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

E começou a fazer as peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor.

Manoel de Barros, 1998

É possível conhecer o mundo a partir do som? Como enunciar e ouvir um mundo que, ao mesmo tempo em que se destrói, está a todo o momento se (re)inventando? Partindo dessas questões norteadoras, “TERRALÍNGUA” apresenta os desdobramentos da pesquisa poética de Camila Proto. A artista explora as potencialidades da linguagem, da imagem e do som, bem como os diálogos transdisciplinares entre arte e ciência. De tais relações, eclodem trabalhos materializados em diferentes mídias e suportes.

Para além de sua inserção acadêmica, Proto teve sua trajetória marcada por relações cotidianas e afetivas que, em certa medida, influenciaram sua formação como pesquisadora e artista visual. Entre tantos atravessamentos e incógnitas que fornecem seus percursos de vida por expedições científicas, no colo da mãe paleontóloga, e interesse musical na cacunda do pai arquiteto, destaca-se o tensionamento das fronteiras usualmente determinadas entre verdade e ficção. Observa-se, assim, que sua produção se posiciona entre disciplinas, criando um espaço-tempo repleto de narrativas misteriosas que despertam a curiosidade e desafiam a crença em uma ciência definitiva e inconteste. 

Dessa forma, a produção aqui disposta ata-se à ideia de se deslocar por uma zona de suspeição das certezas previamente estabelecidas e deixar-se disponível a vias de experimentação. Em cada uma das salas, o visitante é convidado a participar de propostas imersivas e tecnológico-interativas. Ao apostar no som como disparador e/ou elemento estruturante, as instalações instigam o público a pensar formas outras de se relacionar com um mundo em constante transformação.

O processo de inventividade de Proto revela uma dimensão crítica que é sutil, mas está iminente nos seus modos de construção e ativação. Distante de um conhecimento pré-determinado, estruturado e dominante, a artista acredita no agenciamento como meio para a resistência, bem como dispositivo capaz de engajar a relação entre o público e os espaços percorridos ou habitados.

Como o menino que fez uma pedra dar flor na poesia de Manoel de Barros, Camila Proto também fez prodígios: realizou uma espécie de expedição para pesquisar microerosões não-humanas e fantásticas; fez uma misteriosa ilha sonora surgir no lago Guaíba; viajou pelo corpo humano captando os sons de suas cavidades; com a utilização de um fonógrafo, revelou os segredos guardados por sua coleção de conchas e rochas; transformou relevos em linhas de texto e vice-versa. 

Enfim, ao assumir uma outra postura diante da verdade e conectar questões transdisciplinares e ficcionais, a artista nos faz duvidar de nosso próprio pensamento. É nesse aspecto, pois, que sua poética aponta o caráter inventivo do conhecimento e oferece possibilidades de se refletir sobre o papel da arte na abertura de modos de fazer e se posicionar nos diversos campos do saber, descolados de visões essencialistas e hegemônicas.

 

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Por Francisco Dalcol
Diretor-curador do MARGS
Doutor em Teoria, Crítica e História da Arte

O MARGS é uma instituição museológica voltada à história da arte, às práticas artísticas históricas e contemporâneas e à pesquisa, pensamento e produção de conhecimento aprofundado e atualizado em artes visuais.

Tal compromisso tem sido reafirmado em anos recentes, com a convicção de que o Museu deve trabalhar a memória artística em relação e envolvimento com o processo criador e a produção artística recente.

Entendemos que o Museu tem como atribuição revisitar, reexaminar e reavaliar o passado artístico; ao mesmo tempo estando próximo das manifestações, linguagens e investigações empreendidas pelos artistas no presente. Ou seja, que cabe ao Museu focalizar a história da arte, dando também lugar a pesquisas atuais em poéticas e linguagens visuais, enquanto instância de inserção e legitimação de novos valores e sentidos artísticos.

É nossa convicção que, ao criar aproximações entre a produção histórica e as práticas artísticas do agora, encontramos modos de aprofundar e intensificar as formas de conhecimento e experiência sensível, renovando o entendimento e a compreensão sobre o que a arte pode comportar e proporcionar.

Essa é uma visão que questiona a noção de contemporâneo como aquilo que designaria o que viria após os modernismos e, portanto, apenas e exatamente aquilo que se teria por arte hoje. Em lugar, entendemos que o contemporâneo compreende diferentes e múltiplos tempos, os quais coabitam e coexistem sem hierarquias, mas em tensionamento; compondo uma temporalidade complexa, uma mistura de passado, presente e mesmo futuro.

Esse é o fundamento no qual se assenta o programa expositivo do MARGS intitulado “Poéticas do agora”, em operação desde 2019 e voltado a artistas atuais cuja produção recente tem se mostrado promissora e relevante no campo artístico contemporâneo.

Não se trata de algo novo ou estranho na história do Museu, a considerar o constante acompanhamento da produção contemporânea ao longo de sua história iniciada em 1954. E também outros programas institucionais que nos são inspiradores, a exemplo do “Espaço investigação”, que o MARGS manteve nos anos 1980, sempre lembrado por ter sido responsável pela projeção de muitos artistas então jovens, e que hoje figuram como importantes nomes da nossa produção artística.

Assim, a exposição “Camila Proto — TERRALÍNGUA” dá prosseguimento ao programa “Poéticas do agora”*, que tem por objetivo destacar produções que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.

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* As exposições anteriores pelo programa foram “Bruno Borne — Ponto vernal” (2019-2020), “Bruno Gularte Barreto — 5 Casas” (2021), “Estêvão da Fontoura: DESOBECIÊNCIA – Arte e ciência no tempo presente” (2021), “Denilson Baniwa — INÍPO: Caminho de transformação” (2021-2022) e “Guilherme Dable — Não um tempo, mas um lugar” (2022)

 

A ARTISTA

Camila Proto (Porto Alegre, 1996) é artista e pesquisadora. Trabalha nas fronteiras da ficção, da palavra e do som, propondo possíveis traduções e escutas do mundo. É doutoranda em Artes Visuais pela UFRJ. Foi indicada ao XIII Prêmio Açorianos de Artes Plásticas (2020, Porto Alegre), na categoria “Artista em início de carreira”. Dentre sua participação em exposições, destaca-se o Prêmio de Arte Contemporânea da Aliança Francesa (2019 e 2020, Porto Alegre), o 10º festival Novas Frequências (2020, Rio de Janeiro), a exposição internacional “ComCiência” (2019, Belo Horizonte), o I Circuito Latino-americano de Arte Contemporânea (2021, Porto Alegre) e a exposição “Abre-Alas 18”, na Galeria A Gentil Carioca (2022, Rio de Janeiro).

 

O CURADOR

Diego Hasse (Santa Rosa, 1988) é curador, pesquisador e crítico de arte. Graduado em História da Arte (UFRGS), mestre e doutorando em História, Teoria e Crítica da Arte (PPGAV/UFRGS). É membro do Grupo de Pesquisa CNPq “Arte em trânsito: viagens, derivas, deslocamentos”. Seus interesses de pesquisa dialogam com as dimensões críticas da relação entre arte, natureza e paisagem. Integrou o Comitê Curatorial da Galeria Ecarta (2020-2021). Realizou várias curadorias, entre as quais destaca-se “Salta d’água: dimensões críticas da paisagem” (2017), na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo (Porto Alegre). A referida mostra recebeu o destaque na categoria Exposição Coletiva do XI Prêmio Açorianos (2018), pela qual fo finalista nas categorias Jovem Curador, Memória e Curadoria.

 

SERVIÇO

Exposição “Camila Proto — TERRALÍNGUA”

Quando: abertura dia 01.07.2023, às 10h30, em evento aberto ao público. Em exibição até 08.10.2023. 

Onde: 1º andar expositivo do MARGS (Salas Negras). Praça da Alfândega, s/n°, Centro Histórico de Porto Alegre, RS – Brasil – 90010-150

Visitação: terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h), com entrada gratuita.  Visitas mediadas para grupos e escolas podem ser agendadas pelo email educativo@margs.rs.gov.br

 

 

MARGS | MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL 

Instituição museológica pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura do RS, voltada à história da arte e à memória artística, assim como às manifestações, linguagens, investigações, pesquisas e produções em artes visuais.

O MARGS realiza seus projetos por meio de patrocínios como pela Lei de Incentivo à Cultura Federal. O projeto do Plano Anual 2023, gerido pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS), está identificado pelo PRONAC 223047 sob o nome “Exposições de Artes Visuais no MARGS”.

Patrocínio direto:

Banrisul

Patrocínio Lei de Incentivo à Cultura Federal:

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE

CMPC Celulose Riograndense Ltda

Vero Banrisul

Gerdau

Apoio:

Café do MARGS

Banca do Livro

Bistrô do MARGS

Arteplantas

iSend

Realização:

AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul 

SEDAC – Secretaria de Estado da Cultura do RS / Governo do Estado do Rio Grande do Sul

Ministério da Cultura / Governo Federal

MARGS

Praça da Alfândega, s/n°

Centro Histórico, Porto Alegre, RS, 90010-150

Visitação de terça a domingo, 10h às 19h, entrada gratuita

Telefone: (51) 3227-2311

Site: www.margs.rs.gov.br

Facebook: https://www.facebook.com/museumargs

Instagram: www.instagram.com/museumargs

Apoio e Realização