As Salas Negras do MARGS recebem exposição T O P O F I L I A S, de Claudia Hamerski

No dia 18 de agosto, às 18h30, as Salas Negras do MARGS recebem a exposição TOPOFILIAS, de Claudia Hamerski. A mostra reúne desenhos em grandes e pequenas dimensões e desenhos objeto, formando um conjunto de mais de 80 trabalhos produzidas entre 2014 e 2016.

Segundo o curador Mario Gioia, a exposição “Topofilias, de Claudia Hamerski, agrupa questões muito evidentes sobre as potencialidades do desenho, não visto apenas como a ação do grafite sobre o papel, mas sim também como projeto e ideia, um desdobrar pelo espaço, uma presença de matéria e uma trajetória por meios variados como o tridimensional, o fotográfico, o instalativo e o performático.”

Claudia Hamerski é artista Visual, mestre em Poéticas Visuais, com Bacharelado em História Teoria e Crítica de Arte e Desenho. Atualmente desenvolve sua pesquisa artística em Poéticas focada no desenho, processos de criação, paisagem, fotografia, escala, ampliação e repetição. Conheça o trabalho da artista no site www.claudiahamerski.com.

A exposição pode ser visitada até 2 de outubro, de terças a domingos, das 10h às 19h, com entrada franca. Visitas mediadas podem ser agendadas pelo e-mail educativo@margs.rs.gov.br.

No meio-fio

Topofilias, de Claudia Hamerski, agrupa questões muito evidentes sobre as potencialidades do desenho, não visto apenas como a ação do grafite sobre o papel, mas sim também como projeto e ideia, um desdobrar pelo espaço, uma presença de matéria e uma trajetória por meios variados como o tridimensional, o fotográfico, o instalativo e o performático. Também se manifesta em ligações com embates típicos da contemporaneidade, como a necessidade de formar coleções/inventários/arquivos, a escolha deliberada de um tom menor, mais low tech, quase reativo à excessiva virtualização de quase tudo que podemos imaginar, e a centralidade da deriva urbana como prática decisiva e catalisadora de um pensamento visual.

A exposição individual da artista gaúcha no Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli) pode chamar a atenção do público, inicialmente, pelo apuro técnico empreendido em especial nos desenhos de grande escala. Faz-se necessário, então, explicar mais sobre o processo de Claudia. Por entre locais familiares e próximos de casa e do trabalho, a artista planeja e vivencia rotas, onde caminha com objetivos claros. Equipada com uma máquina fotográfica de boa qualidade, registra vegetações esparsas, plantas de pequeno porte e cantos verdes e úmidos nos quais o passante comum, talvez em relação de solipsismo com seu dispositivo eletrônico próprio, nunca perceba. Em uma ação que lembra street photography, faz o clique fotográfico, em geral abaixada e com agilidade, o recorte verde que se tornará base de outro procedimento.

Desta vez no ateliê, ela amplia a imagem coletada que agora virará uma peça gráfica de certo virtuosismo, em um trabalho demorado e minucioso. No labor do ateliê, será de determinação tíbia a fidelidade estrita do que foi ‘capturado’ pelas lentes do equipamento. Aspectos serão maximizados, detalhes serão ressaltados, haverá tanto adendos quanto dados extirpados, e a experiência por meio de elementos do próprio desenho será enfatizada. Entretanto, o conjunto que sai do ateliê novamente se relaciona com a cidade e o lócus onde será exibido, já que algumas das obras são originárias das cercanias do local expositivo e o título dos desenhos revelará quais são esses logradouros. Assim, a artista constroi elos de natureza mais de site specific, traçando conexões com a cidade, a arquitetura e o lugar da arte.

Em Topofilias, Claudia também apresenta ‘desenhos-objetos’. Um deles é uma espécie de paisagem em que os contornos dos lápis usados nos desenhos, dispostos um ao lado do outro, constituem quase que um skyline metropolitano em miniatura, ressaltando as ferramentas de um trabalho físico e serial. Na outra peça, uma caixa de vidro agrega e reúne, sem muita ordem, as lascas descartadas após a ação do estilete por sobre o lápis. Vistas como um díptico, tem sentidos complementares – a primeira alude a um esforço de construção, enquanto a segunda atesta a potência do vestigial. “O artista do mundo precário considera o meio urbano como um invólucro do qual há que se desprender fragmentos” 1, escreve Bourriaud.

Duas séries hoje apresentadas também convergem para tal leitura. Em Improvisações (2016), uma composição algo musical de pequenos desenhos que se espraiam por uma das paredes é uma organização ritmada de acidentes, uma partitura gráfica que elogia o permeável. Já Notas de Rodapé (2016), ainda mais liliputianas – 7 cm x 5 cm e 5 cm x 7 cm –, não deixam de lembrar os pormenores, o cuidado e um certo pendor obsessivo na produção empreendidos por artistas-viajantes europeus. Eles não se exauriram em registrar, com fascínio, a riqueza verdejante do Novo Mundo, criando um legado ainda a gerar discussões sobre o científico e o exótico, por exemplo.

“Sinto-me mais coletora que colecionadora”, diz Claudia. Pois em seu movimento de extrair, ressignificar e oferecer imagens, em um mundo de circulação maximizada delas, e construindo diariamente um outro olhar sobre o corriqueiro, o rasteiro e o que foge dos fluxos predominantes, a artista enraíza abordagens que cruzam o banal e as tão sedimentadas camadas da história da arte. Paradigmático nesse sentido é a proximidade entre Rua Caldas Júnior, 120 (2016) e desenho, em aquarela e bico de pena, de Albrecht Dürer (1471-1528), datado de 1503. Nessa ponte algo improvável e desencaixada entre Nuremberg e Porto Alegre, Claudia realça a abertura de sua obra para o imaginário, o onírico e o fantástico. Contudo, nestes tempos friccionados, tal âmbito ganha nova roupagem. “O imaginário é uma noção muito complicada, porque está no entrecruzamento dos dois pares. O imaginário não é o irreal, mas a indiscernibilidade entre o real e o irreal. Os dois termos não se correspondem, eles permanecem distintos, mas não cessam de trocar sua distinção” 2, declara Deleuze. Assim, por meio de uma senda algo erodida e que pode mudar a todo instante, Claudia Hamerski exibe sua poética mínima e afetiva, características essenciais nesses dias raivosos e cheios de ansiedade.

Mario Gioia

Jornalista, crítico e curador

 

 

  1. BOURRIAUD, Nicolas. RadicanteSão Paulo, Martins Fontes, 2011, p. 96
  2. DELEUZE, Gilles. Conversações (1972-1990). São Paulo, 34, 2010, p. 89

 

Currículo

Claudia Hamerski, (1980, Seberi RS), vive e trabalha em Porto Alegre RS. É artista visual, mestre em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS – Porto Alegre, RS. Possui Especialização em Pedagogia da Arte pelo PPGEdu / Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2012), Graduação em Artes Visuais Bacharel em História Teoria e Crítica de Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2010) e Graduação em Artes Visuais Bacharel em Desenho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006). Desenvolve sua pesquisa artística em Poéticas Visuais na linha de processos de criação. Faz parte do grupo de pesquisa Processos Híbridos na Arte Contemporânea. Tem experiência na área de Artes e Educação, com ênfase em Artes Visuais Desenho e História Teoria e Crítica de Arte, atuando principalmente nos seguintes temas: paisagem, processo de criação, desenho, fotografia, escala, ampliação, repetição e na educação atua em projetos educativos com mediação, formação de mediadores e professores e o ensino da arte em espaços não-formais.

Site: claudiahamerski.com .

 

Principais Exposições:

Passagens – Galeria Augusto Meyer / CCMQ (com indicação ao 9º Prêmio Açorianos Destaque em Desenho) | Porto Alegre RS, 2015. De longe e de perto – Galeria de Arte Mamute, Porto Alegre RS. Curadoria Angélica de Moraes. Da matéria sensível – Afeto e forma no Acervo do MARGS. MACRS, Porto Alegre RS. Curadoria Bruna Fetter, 2014. Entre: Curadoria A – Z.  Museu de Arte Contemporânea do RS – CCMQ, Porto Alegre RS. Curadoria Ana Zavadil, 2013. Poéticas em DEVIR – Articulações Teórico-Práticas. Mamute Estúdio e Galeria, Porto Alegre RS. Curadoria Sandra Rey, 2013. 10º Salão Nacional de Arte. Museu de Arte Contemporânea de Jataí. Jataí GO, 2011. 19º Salão de Artes Plásticas da Câmara Municipal de Porto Alegre. Câmara Municipal de Porto Alegre. Porto Alegre RS, 2010. 61º Salão de Abril – Instalação do Grupo Desvenda, trabalho “Perecíveis”. Galeria Antônio Bandeira. Fortaleza CE, 2010. Observatório 2010 – Espaço Cultural Usina do Gasômetro / Galeria do 4º Andar. Projeto selecionado por edital. Porto Alegre RS, 2010. Residência artística 7ª Bienal do Mercosul – Programa de Residências Artistas em Disponibilidade – Projeto TDUEPURC Riozinho #3. A novíssima geração. Museu do Trabalho. Seleção por edital. Porto Alegre RS, 2008.  Artista representada pela Galeria de Arte Mamute.

 

Realização

Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli

Governo do Estado do Rio Grande do Sul

 

Apoio

Fundação Médica do RS

Carpe Vinun

Café do MARGS

Arteeplantas

Celulose Riograndense

AAMARGS

 

Exposição Topofilias

Artista: Claudia Hamerski

Curadoria: Mario Gioia

Abertura: 18 de agosto, às 18h30min

Visitação: de 19 de agosto a 2 de outubro

Local: Salas Negras

Entrada Franca

 

 

 

Museu de Arte do Rio Grande do Sul

Localização: Praça da Alfândega, s./n.

Centro Histórico, Porto Alegre

Telefone: 32272311

Entrada Franca

Site: www.margs.rs.gov.br

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Apoio e Realização