O Museu de Arte do Rio Grande do Sul — MARGS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS — Sedac, apresenta a exposição “Andressa Cantergiani — FELINA”.
Com curadoria de Bernardo José de Souza, a exposição resulta do projeto que Andressa Cantergiani vem desenvolvendo no interior dos bastidores do MARGS nos últimos 5 anos. A mostra traz trabalhos inéditos em formato de videoinstalação, articulados a uma seleção de obras do acervo do Museu exibidas em traineis removidos da antiga reserva técnica do andar térreo, que foi desativada após a inundação parcial do prédio em 2024.
O evento de inauguração será no sábado, 05.07.2025, às 10h30, e contará com uma performance da artista na área externa em frente ao Museu, envolvendo a fachada do prédio, e com participação de Lídia Pulgar. A mostra segue em exibição até 31.08.2024, ocupando as Salas Negras do 1º andar expositivo.
Andressa Cantergiani (1980, Caxias do Sul/RS) desenvolve sua pesquisa e prática artística a partir do campo da performance. Em anos recentes, sua produção tem ganhado destaque e circulação com projetos realizados em instituições do Brasil e da Europa. Doutora em Poéticas Visuais pelo PPGAV-UFRGS, fez estágio de doutoramento na University of Applied Sciences and Arts – Hochschule Hannover. Também na Alemanha, teve formação no programa Performing Arts on Tour – Summer School da Universität der Künste Berlin, foi bolsista do programa Weltoffenes Berlin e é integrante do coletivo Insurgencias.net – Berlin e da rede DigiBerlin. Desde 2019, conta com obras no Acervo Artístico do MARGS.
“FELINA” é uma investigação artística site-specific iniciada em 2020, durante o fechamento do Museu pela pandemia. O projeto acompanhou outros momentos-chave da história institucional recente, nos quais o MARGS esteve fechado e afastado do público, tanto por razões estruturais, como no período de reformas entre 2020 e 2021, quanto por imposições de ordem social e ambiental, quando das consequências da enchente de 2024, que afetou severamente a estrutura e parte do acervo.
Desse modo, “FELINA” é um projeto envolve uma reflexão crítica sobre as transformações político-estruturais de instituições culturais e artísticas diante de crises contemporâneas, propondo reimaginar o museu como espaço de ressignificação, reparação e inclusão de novos protagonistas, além de conectar a crise climática global ao contexto artístico e institucional. Em perspectiva histórica, o trabalho integra uma vertente da arte contemporânea decorrente da chamada “crítica institucional”, que procura investigar e explicitar os papéis simbólicos e os processos de construção e apagamento de memória no contexto das instituições museais e artísticas.
A personagem criada pela artista — um híbrido de corpo e software, segundo ela — é inspirada na história dos gatos que teriam salvo o Hermitage, o maior museu da Rússia, da ameaça do ataque de ratos, em 1745. À época, a imperatriz Isabel Petrovna emitiu um decreto para que felinos fossem deixados no museu à noite para proteção das obras de arte do acervo e das galerias.
Investigando as estruturas institucionais a partir de seus bastidores e transformações, Andressa Cantergiani realizou ações como uma personagem que se infiltra, habita e “hackeia” as operações físicas, estéticas, administrativas e os dispositivos de segurança do Museu. Assim, desenvolveu microperformances nos ambientes internos do MARGS, realizando vídeos, fotografias, gifs e convertendo objetos, sobretudo de descarte, em elementos de instalação artística.
Após algumas “aparições” do trabalho ainda em processo em exposições coletivas e programas públicos apresentados desde 2021 pelo MARGS, “FELINA” agora ganha um formato expositivo. Apresentada pela programação especial de aniversário dos 71 anos do MARGS, a exposição também integra o programa expositivo “Poéticas do agora”, voltado a artistas com produção atual cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm se mostrado promissoras e relevantes no campo artístico contemporâneo, tendo por objetivo valorizar produções em poéticas visuais artísticas que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.
“Andressa Cantergiani — FELINA” foi contemplado pelo Edital SEDAC nº 27/2024 – PNAB RS – Artes Visuais, financiado pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, Pro-Cultura, Secretaria de Estado da Cultura do RS e Ministério da Cultura/Governo Federal, e é uma correalização com o MARGS.
O MARGS é uma instituição da Secretaria de Estado da Cultura do RS. O plano de recuperação, exposições e atividades educativas do Museu conta com patrocínio direto do Banrisul e com patrocínios via Lei de Incentivo à Cultura Federal do Santander, da Hyundai e da EDP.
FICHA TÉCNICA EXPOSIÇÃO
Curadoria: Bernardo José de Souza
Produção: Jaqueline Beltrame
Projeto expográfico: Urbanauta (Edu Saorin)
Educativo: Michele Zgiet
Assistente de Produção e social media: Alex Domingues
Videoinstalação: Direção de fotografia: Rafael Avancini e Raquel Brust; Assistência de câmera: Gustavo Avancini; Edição: Livia Massei; Cor e finalização: Mia Lab; Som: Anderson Kautner; Cenografia: Edu Saorin; Coprodução: Fogo no Olho Filmes; Mapping: Emotion – arte digital em movimento; Consultoria: VJ Spetto
Montagem: Petroli
Rapel: Lidia Pulgar e Marcos Abalde. Apoio Altitude
Contabilidade: Virginia Helena Kinzel
Acessibilidade: Thales Moreira – Moreira Acessibilidades
TEXTO CURATORIAL
DA INVISIBILIDADE-MUSEU
Museus, por natureza, constituem espaços de ampla visibilidade pública, sua arquitetura destinando-se à exibição de peças de valor artístico, científico, cultural, bem como à construção e difusão do conhecimento — embora, via de regra, não de toda e qualquer forma de conhecimento. Ao largo da modernidade, desde suas origens na Europa do século 18, museus não apenas foram responsáveis por consolidar o cânone ocidental, mas sobretudo por forjar suas narrativas históricas totalizantes.
Mas e se, ao revés, decidíssemos justamente pensar o museu desde a perspectiva da invisibilidade? Como um mecanismo não mais de display, mas de ocultamento de camadas históricas e dinâmicas institucionais, ou mesmo da própria criação artística? Em “FELINA”, projeto proposto por Andressa Cantergiani a partir do fechamento do MARGS para reformas em 2020, o museu converte-se num espaço opaco, desolado, refratário à esfera pública. E às sucessivas capas de impermeabilidade social decorrentes das obras estruturais no museu, do subsequente lockdown imposto pela pandemia de COVID e da avassaladora enchente de 2024, a artista vai sobrepor ainda outras mais, derivadas dos discursos ideológicos construídos desde o interior de tais instituições, os quais tendem a ignorar narrativas não hegemônicas.
Retroagindo no tempo à Rússia de Catarina, a Grande, e inspirando-se na população do Museu Hermitage, em São Petersburgo, por um bando de gatos — destinados a livrar as obras de arte da constante ameaça dos roedores —, Cantergiani vai desenvolver um projeto de ocupação insidiosa do MARGS, desde seus interstícios, sejam eles físicos ou retóricos, estéticos ou burocráticos, de seus dispositivos de segurança ou mesmo de suas normas de trabalho. Vale dizer, contudo, não se tratar aqui de fazer uma crítica específica a este museu ora “ocupado”, mas antes de investigar a natureza de tais instituições, indistintamente, num plano genealógico.
Cantergiani lança mão de uma estratégia “animista” ao disfarçar-se de felina para deambular pelos telhados, fachadas, galerias, corredores, pontos cegos, escritórios e acervos do Museu, desvelando recintos, rotinas e coreografias públicas ou mesmo institucionais, ao passo em que revela padrões arquitetônicos e hierárquicos, juízos de valor simbólico e estético. Ao vestir a “pele” de um animal, a artista se e nos pergunta da ideia de universalidade investida num museu, e da produção de formas de conhecimento supostamente irrefutáveis, embora, no mais das vezes, construídas unilateralmente sob as bases epistemológicas do Ocidente, e do a priori filosófico sujeito/objeto — ou, dito de outro modo, de uma perspectiva ontológica que entende cultura e natureza como antípodas, cujo o olhar humano se impõe às demais formas de vida.
Ao assumir os traços de uma gata, a artista também está, alegoricamente, falando das muitas ausências narrativas nessas instituições, em suas coleções e seus relatos, a saber: as dos povos ameríndios, dos negros, das mulheres, das comunidades LGBTQIAPN+, dentre tantas outras culturas e formas de vida subsumidas aos discursos univocais propalados por museus ao redor do mundo, os quais costumam negligenciar cosmologias divergentes e desprezar a ampla diversidade de memórias materiais ou simbólicas no planeta — mais um reflexo dos deletérios processos coloniais que seguem em marcha.
Por outro lado, esta invasora felina, este agent provocateur no âmbito institucional, alude metaforicamente à ideia de uma pilhagem às avessas, qual seja, a de saquear o museu para restituir aos povos conquistados seus mais caros artefatos, os quais foram sistematicamente espoliados na esteira do imperialismo europeu. Ou, quem sabe, por outra banda, a coreografia desta felina se destine tão-somente a desconstruir, ou desnaturalizar, as formas de expressão artística arraigadas à normatividade das instituições museológicas.
Bernardo José de Souza
Curador
TEXTO INSTITUCIONAL
O MARGS tem o prazer de apresentar “FELINA”, projeto que Andressa Cantergiani vem desenvolvendo nos bastidores do Museu nos últimos 5 anos.
Investigando as estruturas institucionais a partir de sua pesquisa e prática em performance, a artista iniciou o trabalho no contexto do fechamento pela pandemia em 2020. Desde então, acompanhou outros momentos marcantes da trajetória institucional, como a reforma entre 2020 e 2022 e a inundação parcial do térreo na enchente de 2024.
Na criação e desenvolvimento de microperformances no interior do Museu, realizou vídeos, fotografias, gifs e converteu objetos, sobretudo de descarte, em elementos de instalação artística. São imagens, sons e materialidades que acabam também por registrar esses momentos históricos desde os bastidores do Museu. Inclusive a realidade de um ambiente que não existe mais, considerando os registros da antiga reserva técnica situada no térreo antes de ser desativada.
Após algumas “aparições” desse trabalho em processo em exposições coletivas e programas públicos apresentados desde 2021 pelo MARGS, “FELINA” agora ganha um formato expositivo nas Salas Negras, com uma videoinstalação articulada a obras do acervo e a objetos retirados da reserva técnica que foi inundada.
Por ter o MARGS como contexto e objeto de investigação e também por articular questões de constituição e apagamento de memória sobre o passado e os bastidores da instituição, permitindo ao Museu se abrir ao escrutínio e ao autoexame críticos, “FELINA” é apresentada como exposição especialmente por ocasião da programação de aniversário dos 71 anos do Museu.
Em termos de história da arte, o trabalho tem seus antecedentes e fundamentos nas práticas de crítica institucional e crítica à instituição, integrando uma vertente de ações artísticas contemporâneas, notadamente performativas, que investigam e explicitam as estruturas físicas e simbólicas das instituições.
No MARGS, “FELINA” integra o programa expositivo “Poéticas do agora”, voltado a artistas com produção atual cujas pesquisas recentes em poéticas visuais têm se mostrado promissoras e relevantes no campo artístico contemporâneo, tendo por objetivo valorizar produções em poéticas visuais artísticas que investem na pesquisa e experimentação de linguagem, bem como na transdisciplinaridade dos meios, operações e procedimentos.
Agradecemos à artista Andressa Cantergiani, pelo interesse e disposição em tomar o museu como lugar de investigação e prática artística, e ao curador Bernardo José de Souza, pelo acompanhamento crítico e curatorial até aqui, além da produção executiva de Jaqueline Beltrame, da arquitetura expositiva de Eduardo Saorin e dos demais envolvidos no projeto, entre profissionais externos e equipes do Museu.
Francisco Dalcol
Diretor-curador MARGS
Doutor em Teoria, Crítica e História da Arte
ARTISTA E CURADOR
Andressa Cantergiani (Caxias do Sul/RS, 1980) Artista multimedia. É doutora em Poéticas Visuais pelo PPGAV-UFRGS [BR], mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP [BR] e bacharel em Artes Cênicas pelo DAD/UFRGS [BR]. Realizou formação em Performing Arts on Tour – Summer School na Universität der Künste Berlin [DE], e doutorado sanduíche na University of Applied Sciences and Arts – Hochschule Hannover [DE]. Cantergiani é integrante do coletivo Insurgencias.net – Berlim [DE] e da rede DigiBerlin [DE]. Foi bolsista do programa Weltoffenes Berlin em 2022. É representada pela Galeria Mamute [BR] e gestora da Residência BRONZE e da extinta Galeria Península, ambas em Porto Alegre [BR]. Atua como curadora e educadora do PPPP – Programa Público de Performance Península [BR]. Participou de residências, projetos e exposições em diversas instituições e espaços, entre eles: Fundação Iberê Camargo/RS [BR], Museu de Arte Contemporânea MAC/RS [BR], Museu de Arte Contemporânea Bispo do Rosário/RJ [BR], Residência Terra Una/MG [BR], MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul [BR], Brücke Museum [DE], Neue Kunstverein Wien [AU], Neue Gesellschaft für bildende Kunst – NGBK Berlin [DE], Kasselhaus Museum [DE] e Uferstudios GmbH [DE]. Suas obras integram coleções particulares e os acervos públicos do MARGS-RS, MAC-RS e AMARP-RS. Recebeu o prêmio NPN–Joint Adventures Fund Award 2022 em Berlim [DE]. Indicada ao Prêmio PIPA 2023 e 2025.
Bernardo José de Souza (Pelotas/RS, 1974) faz exposições, escreve e investiga arte contemporânea. Ex-diretor artístico da Fundação Iberê Camargo (2017-19), em Porto Alegre, atualmente trabalha como curador independente e vive em Madri (Espanha). Fez parte da equipe curatorial da 19ª Bienal de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil (São Paulo, 2015) e integrou a equipe curatorial da 9ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2013). De 2005 a 2013, foi Diretor do Departamento de Cinema, Vídeo e Fotografia na Secretaria de Cultura de Porto Alegre. Entre as exposições destacadas, estão “Febre da selva elétrica — Vivian Caccuri” (2025), na Galeria Municipal do Porto; “The Disagreement: a theatre of statements” (2024) e “The Devil to pay in the backlands” (2022), ambas no NKW / Neuer Kunstverein Wien (Áustria); “Film as Muse” (2021), no Salzburger Kunstverein (Áustria); “An Exhibition with works by…” (2020), no Kunstinstituut Melly (Holanda); “Beleza e devastação” (2019), no Solar dos Abacaxis (Rio de Janeiro); “Unanimous Night” (2017), no CAC — Contemporary Art Center (Lituânia); e “A mão negativa” (2015), no Parque Lage (Rio de Janeiro).
SERVIÇO
Exposição “Andressa Cantergiani — FELINA”
Quando: inauguração dia 05.07.2025, às 10h30, em evento aberto ao público que contará com performance da artista na área externa em frente ao MARGS. Em exibição até 31.08.2025.
Onde: 1º andar expositivo do MARGS (Salas Negras). Praça da Alfândega, s/n°, Centro Histórico de Porto Alegre, RS – Brasil – 90010-150
Visitação: terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso 18h), com entrada gratuita. O MARGS oferece visitas mediadas para grupos e escolas, mediante agendamento prévio pelo e-mail educativo@margs.rs.gov.br
Contato imprensa: Núcleo de Comunicação e Design do MARGS
comunicacao@margs.rs.gov.br – margsmuseu@gmail.com
MARGS | MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL
Instituição museológica pública, da Secretaria de Estado da Cultura do RS, voltada à história da arte e à memória artística, assim como às manifestações, linguagens, investigações, pesquisas e produções em artes visuais. O MARGS realiza seus projetos por meio de patrocínios como pela Lei de Incentivo à Cultura Federal. O plano de recuperação do Museu conta com o PLANO BIANUAL MARGS 2025-2026, gerido pela Associação de Amigos do Museu (AAMARGS) e identificado pelo PRONAC: 247296.
Patrocínio direto:
Banrisul
Patrocínio:
Santander
EDP
Hyundai
Apoio:
Tintas Renner
iSend
Café do MARGS
Banca do Livro
Arteplantas
Realização:
AAMARGS – Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul
MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul
SEDAC – Secretaria de Estado da Cultura do RS / Governo do Estado do Rio Grande do Sul
MINC – Ministério da Cultura
MARGS
Praça da Alfândega, s/n°
Centro Histórico, Porto Alegre/RS, Brasil, CEP 90010-150
Visitação de terça a domingo, 10h às 19h (último acesso 18h), entrada gratuita
Telefone: +55 (51) 3286-2597
Site: www.margs.rs.gov.br
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